Maioria da população da
CPLP sem acesso a
eletricidade
por não ser prioridade
dos Governos

29.05.2025 -
Um especialista em
energia do Programa das
Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD)
disse hoje que nos
países africanos,
incluindo nos da CPLP, a
maioria da população
continua sem acesso à
eletricidade porque isso
não é prioridade dos
governos.
Carlos Salgado,
especialista regional de
energia do PNUD, que
participou hoje no
primeiro painel da manhã
da II Conferência de
Energia da CPLP, que vai
no seu segundo e último
dia, no Centro de
Congressos do Estoril,
em Cascais, referiu que
a América Latina
conseguiu chegar a uma
taxa de acesso a
eletricidade de 97% da
população utilizando as
empresas públicas.
"Em África, sem dúvida
que o acesso à energia é
uma prioridade número
um" para o
desenvolvimento do
continente, mas só não
avança porque "é uma
questão de priorização
de investimentos
públicos", declarou.
Carlos Salgado salientou
que o PNUD e outras
organizações falam com o
setor público, "porque é
ele que vai direcionar
para o investimento
privado". Para além
disso, frisou, "em
África falta capital
humano".
"Temos que desenvolver
esse capital humano,
porque o PNUD não pode
levar um projeto para
África sem ter quem o
desenvolva e garanta a
sua continuidade",
explicou. Para Salgado,
outro obstáculo ao
desenvolvimento do setor
energético no continente
é a subsidiação aos
combustíveis fósseis, ao
diesel e à gasolina,
"que acontece em muitos
países de África". "A
ideia é redirecionar
esses subsídios às míni
redes", destacou em
declarações á Lusa, já à
margem da conferência.
Carlos Salgado destacou
o exemplo de Cabo Verde,
que "já não tem um
problema de acesso" a
energia elétrica, porque
97% da sua população tem
eletricidade e o país
espera chegar aos 100%
da população em 2026,
tal como disse hoje, no
mesmo painel da manhã, o
vogal do conselho de
administração da Agência
Reguladora Multisetorial
da Economia
cabo-verdiana, Carlos
Ramos.
Mas, Cabo Verde tem o
tal problema de custos
com "os combustíveis
fósseis", que podem ser
redirecionados para a
"eletromibilidade e
biocombustíveis", frisou
Carlos Salgado.
Garantindo que o PNUD
tem projetos novos para
acesso à energia em
África,
Salgado assegurou, na
conversa com a Lusa, que
o financiamento para os
projetos pode ser
alcançado quer pela via
da junção do
"investimento público e
privado", uma espécie de
parcerias
público-privadas, quer
com recurso a
instituições financeiras
multilaterais e a
fundos.
Promovida pelo Governo
de São Tomé e Príncipe,
que detém a Presidência
em exercício da
Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa
(CPLP), a conferência
que hoje termina no
Estoril é organizada
pela Comissão Temática
de Energia e Clima dos
Observadores Consultivos
da CPLP, coordenada pela
Associação Lusófona de
Energias Renováveis
(ALER) e pela Associação
de Reguladores de
Energia dos Países de
Língua Oficial
Portuguesa (RELOP).
No mesmo painel da
manhã, o diretor das
Energias Renováveis da
Guiné-Bissau, William
Araújo, disse que a
eletricidade chega a
apenas 37% da população
guineense e apelou ao
investimento e
financiamento em
projetos de energia
limpa no seus país,
falando de custos
levados com os
combustíveis fósseis.
O evento conta com o
apoio institucional da
CPLP e do Ministério do
Ambiente e Energia de
Portugal, e com a
parceria da Agência para
a Energia de Portugal e
da Câmara Municipal de
Cascais. Segundo a CPLP,
além de ser "um momento
de partilha dos últimos
desenvolvimentos e
projetos-âncora das
transições energéticas
de cada Estado-membro da
CPLP, este evento
pretende promover novas
parcerias e
oportunidades de
investimento e
financiamento".
Dez anos depois da
primeira conferência, a
II Conferência de
Energia da CPLP, à
margem da III Reunião de
Ministros de Energia da
comunidade, é um ponto
de encontro de
governantes,
financiadores,
empresários e
especialistas do setor
de energia do bloco.
ATR // MLL Lusa/Fim
