Crise comercial agrava
inflação em
São Tomé e Príncipe

29.04.2025 - O
economista do Fundo
Monetário Internacional
(FMI) que coordenou o
relatório sobre a África
subsaariana disse hoje
que a crise comercial
global vai agravar o
problema da já elevada
inflação em São Tomé e
Príncipe. "As recentes
crises perturbam a
cadeia de abastecimento,
aumentando os preços dos
produtos de base e,
consequentemente, as
pressões sobre a
inflação de São Tomé e
Príncipe", disse
Thibault Lemaire.
Em entrevista à Lusa no
final dos Encontros da
Primavera do Banco
Mundial e do FMI, que
terminaram no sábado em
Washington, o economista
disse que "um desafio
importante" para o
arquipélago é controlar
a subida dos preços, que
o FMI prevê que seja de
9,6% este ano, uma
revisão em baixa face à
estimativa de 10,8%
feita em outubro do ano
passado.
"A inflação é muito
elevada, São Tomé e
Príncipe tem registado
progressos notáveis no
controlo da inflação,
com implementação do
regime de paridade fixa
com o euro", reconheceu
o economista, mas
acrescentando:
"A inflação tem-se
mantido elevada devido a
fatores como a fraca
disciplina orçamental, a
fraca capacidade
produtiva interna, que
torna os produtos
internos menos
competitivos face aos
importados". Questionado
sobre o impacto do
aumento das tarifas
comerciais decidido pelo
Presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump,
Thibault Lemaire disse
que o "impacto direto é
negligenciável, mas os
efeitos indiretos são
importantes".
O país "depende da ajuda
internacional para
financiar uma parte
relevante do seu
orçamento e para
reforçar as reservas
internacionais, também
através do turismo, da
confiança global, e isso
pode exercer pressão
sobre o desempenho
económico do país,
sobretudo se persistirem
as tensões comerciais",
concluiu.
Apesar dos receios do
FMI, o Governo de São
Tomé e Príncipe
desvalorizou o impacto
da tarifa de 10% às suas
exportações para os
Estados Unidos,
avaliando que "não
constituirá nenhum
problema para a
economia" do país
africano.
"As nossas divisas não
dependem daquilo que nós
exportávamos para os
Estados Unidos", disse o
ministro do Estado e da
Economia e Finanças,
numa entrevista à Lusa
na semana passada em
Washington, durante as
reuniões do FMI e do
Banco Mundial. Mantendo
um olhar positivo face
ao cenário mundial,
Gareth Guadalupe vê
oportunidades onde
muitos líderes veem
desespero, e equaciona
colocar em prática um
projeto de "cidadania
por investimento".
"Pode ser uma
oportunidade para os
investidores. Hoje em
dia há muitos
investidores à procura
de oportunidades, até de
ter um `safe house`
[refúgio], digamos
assim. Um sítio em que
saibam que têm uma
habitação, mas que essa
habitação lhes dá
garantias de direitos de
propriedade, em que
possam fazer um
investimento", indicou.
À semelhança de
Portugal, que teve os
`vistos gold`, São Tomé
e Príncipe quer explorar
o `citizenship by
investment` [cidadania
por investimento].
"Estamos a ver a
possibilidade de
explorar um `citizenship
by investment`.
Há vários parceiros
interessados, mas nós
temos de trabalhar o
nosso quadro legal para
estar devidamente
enquadrado e permitido,
e queremos que esse
processo seja totalmente
transparente. Portanto,
vamos continuar a
conversar com os
parceiros e ver quais as
possibilidades nessa
matéria", afirmou à
Lusa.
"Outra das coisas que
podemos vir a beneficiar
com a guerra comercial,
como foi no tempo da
pandemia, é que nós
estamos a falar de um
país como os EUA, que é
um dos maiores
consumidores mundiais, é
um `price maker` ao
nível dos preços
internacionais. Nesse
sentido, a guerra
comercial pode abrir
oportunidades para uma
diminuição do preço dos
combustíveis. Enquanto
nós não fazemos a
transição energética,
podemos beneficiar da
diminuição dos preços
dos combustíveis",
concluiu.
Lusa
