Cenário político em São
Tomé e Príncipe está
bipolarizado entre MLSTP
e ADI
19.09.2022 - O sociólogo
são-tomense, Olívio
Diogo antecipou hoje que
as eleições legislativas
do próximo domingo, a
que concorrem 11
movimentos, será
bipolarizada entre o
MLSTP, atualmente no
Governo, e a ADI, do
ex-primeiro-ministro
Patrice Trovoada.
“O
cenário que temos é que
o cenário político está
bipolarizado. (…) Neste
momento, a disputa certa
será entre o Jorge Bom
Jesus, atual
primeiro-ministro e
líder do Movimento de
Libertação de São Tomé e
Príncipe/Partido Social
Democrata [MLSTP/PSD] e
a Ação Democrática
Independente [ADI] e seu
Patrice Trovoada, que
acaba de chegar ao
país”, comentou à Lusa,
em São Tomé.
Um
cenário que, para o
analista, é
surpreendente, após a
formação do movimento
Basta, que se pretendia
afirmar como “a terceira
via”. Uma das suas
figuras mais destacadas
é o presidente da
Assembleia Nacional,
Delfim Neves, que nas
eleições presidenciais
do ano passado ficou em
terceiro lugar, com
quase 15 mil votos –
resultados que
contestou, alegando ter
havido fraude eleitoral.
“Por mais
estranho que pareça, até
agora Delfim Neves não
apareceu na campanha.
Não se sabe qual é a
estratégia e este facto
também, no meu entender,
está a contribuir muito
para que haja esta
bipolarização”, referiu.
Na semana
passada, o coordenador
do Basta, Salvador dos
Ramos (ex-ministro da
ADI), afirmou que o
movimento não definiu um
candidato a
primeiro-ministro e que,
caso vença as eleições
legislativas, o futuro
chefe de Governo seria
decidido nesse momento,
o que, considerou Olívio
Diogo, “baralha
significativamente o
eleitorado que pensava
votar neste movimento”.
Por outro
lado, apontou “um erro”
que o movimento está a
cometer, na sua
perspetiva, ao
“dispensar todo o
capital” que Delfim
Neves conquistou nas
eleições de há um ano.
Com a chegada do antigo
primeiro-ministro
(2014-2018) Patrice
Trovoada ao país este
domingo, após quatro
anos de ausência do
país, “talvez Delfim
Neves se sinta motivado
para vir dar o suporte
necessário que o
movimento Basta
precisa”.
Sobre o
regresso de Trovoada,
que no domingo realizou
um comício perante
milhares de apoiantes na
capital são-tomense, o
sociólogo considerou que
a figura do líder da ADI
já marcava a campanha
eleitoral. Os partidos
que formam a chamada
‘nova maioria’, no
poder, (MLSTP e
coligação PCD/UDD/MDFM)
e que agora partem para
as legislativas sem
acordo eleitoral, “sabem
que com a chegada de
Patrice Trovoada há uma
mudança total de
paradigma, porque ele
conseguiu, ao longo do
tempo, granjear um grupo
de simpatizantes que são
mais do Patrice Trovada
do que propriamente da
ADI”.
Olívio
Diogo alertou, no
entanto, para o risco de
o líder da ADI assinar,
nesta corrida, a sua
morte política. Patrice
Trovoada “é perentório
em dizer que se a ADI
não vencer estas
eleições com maioria
absoluta, não vai
governar”.“Isto é mais
do que chantagem, é uma
pessoa que tem
autoridade sobre as
outras e que faz uso
dessa autoridade. E diz
que se a ADI não fizer a
maioria absoluta, cabe à
ADI fazer aquilo que
quiser.
Isso é a
forma como Patrice
Trovoada lida com o seu
eleitorado, mas feliz ou
infelizmente, ele pode
dizer tudo isso, pode
colocar as coisas da
forma como coloca, e um
grande leque da
população continua
disponível” para votar
nele, considerou.“
Continua
a ser um herói, mas não
sei quanto tempo é que
isso ainda vai durar”,
disse. Por outro lado, o
líder do MLSTP e atual
chefe do executivo,
Jorge Bom Jesus,
“despertou tarde para
fazer toda a intervenção
eleitoralista, deixou
para este último ano
todas as ações do
Governo e só agora é que
vai ao encontro da
população”.
“Se Jorge
Bom Jesus tivesse tido
esta intervenção durante
os quatro anos do seu
mandato, hoje era com
certeza que ia vencer as
eleições”, declarou o
analista. Bom Jesus, que
tem anunciado novas
obras nas últimas
semanas, com o lema ‘tá
a falar, tá a fazer’,
“está a dizer que, se
ele tiver a continuidade
governativa, vai dar
continuidade a essas
ações”.
“A
questão é que o
eleitorado pode não ter
essa leitura. Pode
pensar que realmente,
durante os quatro anos,
Jorge Bom Jesus não fez
muito do que devia ter
feito”, avaliou. Além
disso, Olívio Diogo
considerou que a
coligação Movimento de
Cidadãos
Independentes/Partido
Socialista/Partido da
Unidade Nacional – que
reúne o movimento de
cidadãos pelo distrito
de Caué, que em 2018
elegeu dois deputados, e
candidatos da ilha do
Príncipe que querem uma
eleição direta para o
parlamento nacional –
poderá eleger três ou
quatro deputados e
“realmente ter uma
palavra a dizer na
questão de não haver uma
maioria absoluta”.
O
especialista afirmou-se
ainda preocupado com
outras eventuais “mortes
políticas”, nomeadamente
de dois partidos
históricos, União para a
Democracia e
Desenvolvimento (UDD) e
Movimento Democrático
Força da Mudança/União
Liberal (MDFM/UL), que
em 2018 concorreram
coligados com o Partido
de Convergência
Democrática (PCD) e
elegeram cinco
deputados, mas que agora
terão de avaliar o seu
peso eleitoral sozinhos.
No dia
25, também o governo
regional do Príncipe vai
a votos, concorrendo a
União para a Mudança e
Progresso do Príncipe (UMPP),
liderado pelo atual
presidente, Filipe
Nascimento, e a
coligação Movimento
Verde para o
Desenvolvimento do
Príncipe (MVDP) e MLSTP/PSD,
encabeçada por Nestor
Umbelina. Os 123.302
eleitores são-tomenses
são ainda chamados a
escolher os presidentes
das autarquias.