06.05.2022 - António
Feijó assumiu o cargo de
Presidente da Fundação
Calouste Gulbenkian.
Administrador não
executivo desde 2018, é
o primeiro homem de
Letras e Humanidades no
cargo, sucedendo a
Isabel Mota.
Perante
um auditório cheio e
emocionado com as
palavras de despedida de
Isabel Mota, o novo
presidente dirigiu as
suas primeiras palavras
aos colaboradores da
casa que passa hoje a
liderar. Destacando a
nostalgia deixada pelo
“brilho do acontecimento
ou da iniciativa de que
se guarda memória”,
relevou que “sob o
brilho dessa atividade
da Fundação, esconde-se
a atuação profissional
dos seus colaboradores.
Esse
profissionalismo
essencialmente discreto,
tão discreto que nem
mesmo pretende ser
percebido como discreto,
não deixa de ser
percetível.” Este é,
disse, um traço “de uma
cultura interna ativa e
assiduamente criada ao
longo de décadas.”
Ao longo
de 20 minutos, percorreu
a história da Fundação,
que começou num
“contexto de vazio”; se
tornou num “Ministério
da Cultura oficioso de
um país em grande parte
desprovido de estruturas
nesse domínio”;
persistiu, como
“instituição cujo
oxigénio é a liberdade”,
ao regime totalitário;
assistiu à mudança de
regime e à “tentativa de
usurpação de que a
Fundação foi alvo”.
Percorreu a história,
com “exemplos de uma
relação difícil, com um
contexto adverso”, para
destacar a “necessidade
de a
Fundação
persistir autónoma em
tudo o que decide e faz,
de se manter separada de
todos os poderes”.
Enunciado os quatro fins
estatutários originais –
Arte, Ciência, Educação
e Beneficência – deu
conta dos três eixos
estratégicos que os têm
espelhado no plano de
atividades que este ano
termina: Conhecimento,
Coesão Social e
Sustentabilidade.
“Outros se lhe
sucederão, porventura
mais económicos e
determinados pelo que
então for tido por mais
adequada resposta às
pressões da conjuntura.”
A
Fundação é, para o novo
Presidente, “uma
instituição filantrópica
que acolhe um legado
deixado por uma
personalidade de uma
dimensão maior e rara,
no seu tempo e no seu
século, Calouste Sarkis
Gulbenkian.
Estatutariamente
definida como perpétua,
impõe a quem de momento
a dirija o dever de
procurar assegurar esse
fim, de proteger a
integridade desse
legado.”
Sobre a
questão da perpetuidade,
cujo debate é extenso e
complexo, António Feijó
considera “importante
reter a perpetuidade da
Fundação como horizonte
de toda e qualquer
decisão maior que os
seus responsáveis
fiduciários tomem. Tem
sido aliás esse o caso.
A
perpetuidade da Fundação
tem sido assegurada pela
gestão prudente do seu
património.” Mas há
“outra posição de
princípio que se impõe:
a de que nenhuma
instituição filantrópica
alguma vez dispõe dos
recursos necessários à
sua atividade. Os fins
que visa são
inesgotáveis e sempre
abertos.” Chegaria o
tempo de “alguém ligado
à Cultura e às
Humanidades assumir a
presidência da
Fundação.”
Professor
Catedrático do
Departamento de Estudos
Anglísticos e do
Programa em Teoria da
Literatura, António
Feijó considera que, “a
admitir-se alguma
singularidade na
formação em Humanidades
[do novo Presidente],
talvez ela consista numa
relativa desenvoltura no
uso de certas alusões ou
referências”.
E,
referindo-se à
“capacidade profética
que certas obras
literárias”, conclui,
referindo-se a um
romance dos finais do
séc. XIX, do autor
norte-americano Henry
James. Nele se descreve
“como uma jovem mulher
do mais exclusivo
círculo social de Boston
se torna vítima de um
casamento com um esteta
muito elegante e cruel
e, de facto, moralmente
corrupto”.
A jovem é
a dado passo descrita,
por um admirador, como
sendo um espírito
singularmente livre. Tão
livre “que ninguém
poderá ficar
surpreendido se ela vier
a exoticamente casar-se
com um arménio ou um
português. Ora como
todos sabemos, uma
aliança análoga veio na
realidade, de outro
modo, e não muitas
décadas depois, a ter
lugar. O resultado, há
que reconhecê-lo, foi
profundamente
beneficente, esplêndido
e rico, e tem grandeza.”
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