O aquecimento global
só poderá ser
travado com mudanças
no uso dos solos e
no consumo
alimentar,
advertiram hoje as
Nações Unidas num relatório que
servirá de base a
futuras negociações
sobre alterações
climáticas.
Os cientistas
responsáveis pelo
relatório asseguram
que comer
menos carne e mais
comida à base de
plantas ajuda a
combater as
alterações
climáticas,
mas sublinham que o
objetivo não é dizer
aos consumidores o
que devem comer, mas
fazer recomendações
para os líderes
políticos.
O documento,
aprovado ao final de
cinco dias de
reuniões científicas
na 50.ª sessão do
Grupo
Intergovernamental
de Especialistas
sobre Alterações
Climáticas (IPCC)
das Nações Unidas,
em Genebra, sustenta
que uma "melhor
gestão dos solos
pode contribuir para
travar as alterações
climáticas".
Pela primeira vez,
os especialistas
estabelecem uma relação
direta entre as
alterações
climáticas e a
degradação global
dos solos -
zonas mais áridas,
perda de
biodiversidade e
desertificação - e
alertam para um
aumento das secas em
regiões como o
Mediterrâneo ou o
sul de África devido
ao aquecimento
global.
Em outras zonas,
como as florestas,
os efeitos das
mudanças climáticas
podem incluir um
maior risco de
incêndios ou de
pragas.
Segundo o estudo, um
quarto das 70% de
terras usadas para
atividades humanas
estão degradadas,
com a expansão da
agricultura e da
silvicultura a
contribuir para o
aumento das emissões
de C02, para a perda
de ecossistemas e
para a redução da
biodiversidade.
Insiste também na
ameaça colocada pela
desertificação e a
necessidade de lutar
contra este
fenómeno.
AQUECIMENTO GLOBAL
PROGREDIU 1,53ºC
O relatório, o
segundo dos três
pedidos ao IPCC após
a assinatura do
Acordo de Paris,
que, em 2016,
estabeleceu como meta
manter o aquecimento
global abaixo dos
2ºC,
servirá de base às
futuras negociações
dos estados
signatários e deverá
influenciar as
discussões na
cimeira anual sobre
o clima, agendada
para dezembro em
Santiago do Chile.
Os especialistas
concluíram que o
aquecimento das
superfícies
emergentes está a
aumentar a uma maior
velocidade do que o
aquecimento global,
tendo progredido
1,53ºC e o
documento prevê
"riscos importantes"
de falta de água nas
zonas áridas,
incêndios e
instabilidade
alimentar com um
aquecimento global
de 1,5ºC, passando a
"muito importantes"
se o aquecimento for
de 2°C.
ANO DE 2019 BATE
RECORDES DE
TEMPERATURA A NÍVEL
GLOBAL
DESPERDÍCIO
ALIMENTAR VS 820
MILHÕES PASSAM FOME
NO MUNDO
O texto contém
recomendações para
que os governos
promovam políticas
de mudança
do uso florestal e
agrícola dos solos,
tendo em conta que
as florestas
absorvem cerca de um
terço das emissões
de dióxido de
carbono (CO2).
Recomenda também a
implementação de
políticas que "reduzam
o desperdício de
comida e
promovam a opção por
determinados regimes
alimentares" numa
alusão a dietas
menos carnívoras e
que reduzam a
população obesa ou
com excesso de peso,
estimada em mais de
2 mil milhões de
pessoas.
De acordo com o
estudo, entre 35
e 30% da comida
produzida no planeta
é desperdiçada,
enquanto se estima
que 820 milhões de
pessoas passem fome
em todo o mundo.
Combater este
problema poderá
reduzir a pressão de
desflorestação com o
objetivo de aumentar
os solos agrícolas,
considera o estudo,
que aponta
igualmente que a
agricultura,
silvicultura e
criação de gado
representam 23% do
total de emissões de
C02.
É proposto, por
isso, retomar as
práticas agrícolas,
silvícolas e de
produção de gado das
populações
indígenas, uma vez
que, segundo o
documento, a "sua
experiência pode
contribuir para os
desafios que
representam as
alterações
climáticas, a
segurança alimentar,
a conservação da
biodiversidade e o
combate à
desertificação".
Nesse sentido, o
painel de
especialistas apela
para "ações de curto
prazo" contra a
degradação dos
solos, o desperdício
alimentar e as
emissões de gases
com efeitos de
estufa no setor
agrícola.
Lusa