Agostinho Fernandes é o
novo líder
do Ação
Democrática Independente
26.05.2019
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O
novo líder do Ação
Democrática Independente
(ADI, oposição em São
Tomé e Príncipe), eleito
hoje por aclamação,
definiu como prioridade
a união do partido e
anunciou que vai
contactar «todos os
atores sociais» para
procurar «um consenso».
«Em
primeiro lugar, vamos
olhar para dentro de
casa, vamos começar a
tratar dos nossos
problemas», afirmou hoje
Agostinho Fernandes,
candidato único à
liderança do ADI eleito
hoje por aclamação num
congresso realizado na
capital são-tomense.
No seu
discurso após a eleição,
perante centenas de
militantes, que enchiam
o Cinema Marcelo da
Veiga, na capital
são-tomense, sublinhou:
«O compromisso que
inequivocamente
assumimos hoje é o de
sarar as feridas no seio
da nossa família
política”, disse,
anunciando que vai
promover o diálogo “com
vista ao
restabelecimento da
confiança, da união e da
coesão».
A
realização, hoje, do
congresso para eleger o
presidente do partido –
depois da autossuspensão
de funções do antigo
líder, Patrice Trovoada,
em novembro passado –
foi confirmada esta
sexta-feira pela
comissão eleitoral do
ADI, contrariando o
conselho nacional, que
na quinta-feira tinha
anunciado o adiamento do
congresso, sine die,
alegando «o ambiente que
se vive» no interior do
partido.
A decisão
do conselho nacional
surgiu dias depois de
Patrice Trovoada,
ausente de São Tomé e
Príncipe há vários
meses, ter enviado um
vídeo a recomendar o
adiamento do congresso.
«O
momento político atual
do nosso país apela a um
ADI forte e coeso, capaz
de fazer uma oposição
cerrada, mas
construtiva”, afirmou,
considerando que “o
país, as instituições e
os seus legítimos
representantes passaram
a ser a chacota do
mundo, de tão desoladora
que tem sido a atuação
daqueles que deveriam
representar [o povo] com
dignidade».
Depois de
tratar dos problemas
internos do partido,
acrescentou em
declarações aos
jornalistas, a nova
liderança do ADI irá
contactar os restantes
partidos políticos.
«Propomos
iniciar um verdadeiro
diálogo franco e aberto
com todos os atores da
nossa sociedade, desde
os partidos políticos,
organizações sindicais,
instituições religiosas,
organizações
não-governamentais e
também organizações
empresariais e o setor
privado, no sentido de
nos comprometermos de
uma vez por todas com o
país que nós queremos»,
disse.
«Acreditamos que o
principal problema é o
clima de crispação
desnecessário que
vivemos. [Pretendemos]
criar um espaço de
entendimento, de
consenso, para que os
principais problemas do
nosso país sejam postos
em cima da mesa e todos
possamos trabalhar, cada
um com a sua filosofia e
os seus princípios, os
seus ideais, mas rumo a
um ideal coletivo que é
os superiores interesses
do nosso país», afirmou
Agostinho Fernandes.
O novo
presidente do partido
afirmou-se ainda
disponível para convocar
um novo congresso para
eleger a direção dentro
de seis meses.
«Não
temos medo nem receios
de eleição interna. (…)
Caso os militantes e
dirigentes do ADI assim
o entendam, dentro de
seis meses podemos
voltar para um novo
congresso eletivo para
dar oportunidade a todos
os que queiram para se
poderem candidatar»,
anunciou.
Questionado, no final,
sobre a possibilidade de
a ala pró-Patrice
Trovoada impugnar a sua
eleição, Agostinho
Fernandes deixou um
conselho: «Que
encontremos nós a
solução, ao invés de
recorrermos aos
tribunais. Tenho plena
consciência de que a
razão não está do lado
deles.»
Os
militantes empunhavam
bandeiras amarelas e
azuis (cores do partido)
e t-shirts com mensagens
como «É a vez do povo
mandar» (sic), «Vamos
avançar», «Estamos
prontos», mas também
«Mais além», o slogan da
candidatura às eleições
legislativas de outubro
passado, encabeçada pelo
antigo presidente do
ADI, Patrice Trovoada
(primeiro-ministro entre
2014 e 2018).
Agostinho
Fernandes evocou o
antigo líder do partido,
«cuja visão, dedicação e
contribuição para o
crescimento e relevância
política do ADI lhe
reservam, sem a mais
pequena sombra de
dúvidas, um lugar de
honra na estrutura do
partido», referiu,
recebendo aplausos
tímidos, que só
aumentaram quando
Agostinho Fernandes
pediu «uma salva de
palmas».
No
exterior do edifício,
alguns militantes do ADI
contestavam, indignados,
a eleição de Agostinho
Fernandes. «Este
congresso é ilegal. É
uma festinha deles»,
disse um apoiante do
partido à Lusa,
referindo que o objetivo
de Agostinho Fernandes é
«fazer uma coligação com
o MLSTP» (Movimento de
Libertação de São Tomé e
Príncipe - Partido
Social Democrata),
atualmente no poder.