20.06.2023 - O
primeiro-ministro
são-tomense, Patrice
Trovoada, desafiou hoje
em Acra o continente
africano a apostar nos
quadros que forma e que
são "sugados" pelos
países europeus,
concluindo que África
investe na Europa em vez
de investir em si.
"Somos o continente mais
jovem. Hoje em dia, a
Europa aspira todos os
nossos quadros, todos os
que gastam dinheiro numa
escola pública ou numa
universidade para se
formarem, a Europa fica
com eles. Estamos a
investir na Europa",
afirmou Patrice
Trovoada, quando
intervinha numa sessão
das Reuniões Anuais do
Banco Africano de
Exportação e Importação
(Afreximbank).
"Por isso, temos de dar
esperança aos nossos
jovens, aos nossos
gestores, para que
fiquem nos nossos
países. Temos de
continuar a investir nos
jovens e na educação",
reforçou. Trovoada, que
participou com outros
chefes de Estado, de
Governo e representantes
de chefes de Governo,
avançou três questões
que África deve cumprir.
Sendo a primeira questão
a aposta na educação e
na criação de condições
para os que os quadros
africanos não sejam
atraídos pelos países
europeus, a segunda
assenta no
desenvolvimento
tecnológico.
"Em segundo lugar, temos
um acelerador de
desenvolvimento sob a
forma de tecnologia e
que são a inovação e a
digitalização. Não
podemos perder este
ciclo", defendeu. "E a
terceira é a necessidade
de preservar, porque
apesar de tudo, apesar
de toda a exploração de
que temos [África] sido
vítimas, no que diz
respeito ao ambiente,
ainda somos a zona mais
bem preservada. E
precisamos de a
preservar", sustentou.
Patrice Trovoada
considerou que essa
preservação "deve ser
negociada pelo valor
mais alto". "
Ou seja, preservar e
obrigar aqueles que
destruíram o planeta a
pagar muito mais para
que possamos continuar a
preservá-lo", afirmou.
Na sua intervenção, o
primeiro-ministro
são-tomense criticou o
Fundo Monetário
Internacional por
"alterar as suas
próprias regras", a
propósito da guerra na
Ucrânia. "Sabemos como
são as nossas relações
com o FMI. Mas o FMI
mudou as suas regras por
causa da guerra na
Ucrânia. Antes, o FMI
não intervinha em países
em conflito. Mudaram as
regras. Agora estão a
apoiar a Ucrânia",
disse. Outro desafio que
Trovoada lança a África
é que o continente
entenda qual o seu papel
e como se deve preparar
para o consolidar.
"Precisamos de pensar e
saber qual é o nosso
lugar no mundo.
Mas ao sabermos onde nos
inserimos, também
precisamos de ter
consciência do nosso
poder. E está na altura
de trabalharmos em
conjunto, pelo que
reforçar o Afreximbank
ou qualquer outro banco
africano que tenha a
mesma visão como banco é
uma obrigação. É uma
necessidade de
recursos", salientou,
destacando a necessidade
de reforçar a
bancarização no
continente. Patrice
trovoada invocou a
facilidade que
representam atualmente
os vários sistemas de
pagamento existentes.
"É vital que existam
muitas mais instituições
financeiras africanas
fortes, porque os bancos
estrangeiros em África,
atualmente, nem sequer
analisam o risco.
Analisam o 'compliance'
e isso está a tornar-se
cada vez mais crítico
para nós, porque eles
dizem que somos bancos
com acionistas europeus
ou americanos e que
temos o nosso 'compliance'.
É mais um problema de
risco de investimento em
África", vincou. Nesse
sentido, disse que uma
das questões
relacionadas com os
recursos não é apenas a
banca, "mas também a
domiciliação dos lucros
e dos recursos". "Porque
na indústria extrativa
aceitamos que o
investidor estrangeiro
que entra possa
recuperar esses custos.
Mas e depois? Porque não
domiciliamos uma parte
dos lucros, nem que seja
uma parte deles em
África, para ajudar o
nosso setor privado
nacional? É possível.
Esse dinheiro dos lucros
reforçará ainda mais a
nossa economia",
acrescentou. O
Afreximbank, instituição
financeira pan-africana
criada em 1993, está
reunido em Acra, capital
do Gana, até esta
quarta-feira para
debater, entre outros
temas, a continuação da
consolidação da Zona de
Comércio Livre
Continental Africana (AfCFTA,
na sigla em inglês).
Em Acra assinala-se
ainda o 30.º aniversário
do Afreximbank, criado
sob os auspícios do
Banco Africano de
Desenvolvimento (BAD) e
financiador dos governos
africanos e empresas
privadas no apoio ao
comércio intra-africano.
A reunião decorre sob o
tema "Concretizar a
visão: Construir a
prosperidade para os
africanos", e centra-se
no comércio africano, no
financiamento do
comércio e em questões
de desenvolvimento,
incluindo a aplicação da
AfCFTA.