Oposição são-tomense
quer missão de bons
ofícios
da CPLP para ajudar a
Guiné-Bissau
02.01.2024 -
O MLSTP/PSD, na oposição
são-tomense, criticou
hoje o "silêncio das
autoridades"
são-tomenses face à
crise política na
Guiné-Bissau, pedindo
uma missão de bons
ofícios da Comunidade
dos Países de Língua
Portuguesa [CPLP] para
ajudar aquele país.
"Preocupa-nos deveras a
situação na Guiné-Bissau
e sobretudo o efeito de
contágio em relação a
São Tomé e Príncipe,
porque é muito fácil
adotar-se estas más
práticas [...]. Um
Governo suportado por
uma parlamento com uma
maioria absoluta, não
vemos por que razão é
que ele é dissolvido",
disse Jorge Bom Jesus em
entrevista à Lusa. Sem
citar nomes, o
presidente do Movimento
de Libertação de São
Tomé e Príncipe-Partido
Social Democrata (MLSTP-PSD)
considerou que "estão a
passar por cima de
regras básicas
democráticas".
"Mas
também nos preocupa o
silêncio das nossas
autoridades, sobretudo
num momento em que nós
presidimos a CPLP e não
vemos nenhuma pro-ação
da parte das nossas
autoridades",
acrescentou o
ex-primeiro-ministro
são-tomense (2018-2022).
Jorge Bom Jesus disse
esperar que "se possa
reverter isso
rapidamente" porque é
preciso encontrar a paz,
"desenvolvimento, e
sobretudo que a
democracia e o valor da
liberdade possa vingar"
em todos os países da
CPLP.
"Tudo o
que se puder fazer no
sentido de se ajudar os
guineenses a se
aproximarem, a se
reencontrarem acho que
deve ser feito. Claro
que os problemas dos
guineenses são para
serem resolvidos em
primeira mão pelos
próprios guineenses, mas
os outros países e nós
da comunidade temos este
dever de ajudar",
sublinhou Bom Jesus.
Para
isso, o líder do MLSTP/PSD
defendeu que "é preciso
chamar toda a gente",
nomeadamente os chefes
de Estado e os ministros
dos Negócios
Estrangeiros da CPLP
para colocar a questão
da Guiné-Bissau na
agenda, como "uma
prioridade política" e
encontrar "uma solução
de bons ofícios", sem
ingerência nos assuntos
internos daquele país.
Bom Jesus opôs-se à
posição do
primeiro-ministro
são-tomense, Patrice
Trovoada, que defendeu
que os órgãos regionais,
no caso, a Comunidade
Económica dos Estados da
África Ocidental (CEDEAO),
devem ter a prioridade
nas ações relativas à
crise política na
Guiné-Bissau e que a
CPLP deve acompanhar a
situação
secundariamente. "Eu
acho que as organizações
todas, seja a CEDEAO,
CEEAC, CPLP, Nações
Unidas [...] cada uma
deve atuar a seu nível
e, se for o caso, de
forma concomitante.
O
importante são os
resultados. [...] Isto
de formalismo, de
esperar a sua vez,
quando nós temos o fogo
a arder, não é a melhor
estratégia", defendeu
Jorge Bom Jesus. A crise
política na Guiné-Bissau
desencadeou-se depois de
o Presidente, Sissoco
Embaló, ter decretado a
dissolução do
parlamento, eleito em
junho passado, antes do
prazo constitucional
para o poder fazer.
Em
seguida, Sissoco Embaló
demitiu o
primeiro-ministro
Geraldo Martins, que se
recusara a formar um
Governo de iniciativa
presidencial, e nomeou,
em substituição, Rui
Duarte de Barros,
episódios de uma crise
que começou a ser
desenhada na sequência
de confrontos entre
militares, nos passados
dias 30 de novembro e 01
deste mês. Sissoco
Embaló classificou esses
incidentes de tentativa
de golpe de Estado.
O líder
da oposição são-tomense
também criticou a
posição de São Tomé e
Príncipe face ao Golpe
de Estado praticado
pelos militares no Gabão
em agosto, defendendo
que ao nível da CEEAC
deve "haver um espaço de
concertação
político-diplomática
para que de facto se
possa tomar decisões em
consenso para não haver
vozes dissonantes".
Jorge Bom
Jesus defendeu a
soberania de cada
Estado, mas argumentou
que países menores como
São Tomé e Príncipe
devem fazer o esforço de
estar em sintonia "com
os países maiores" antes
de avançar
"solitariamente" nas
suas posições.
"Eu
fiquei um bocado
perplexo quando nós
recebemos aqui em São
Tomé o Presidente [de
transição] do Gabão com
pompa e circunstancias
[e] agora eu oiço que há
alguma reserva de
Angola. São Tomé e
Príncipe não fica muito
bem na fotografia",
referiu Jorge Bom Jesus.
JYAF // FPA Lusa/Fim