Emigração reduz alunos
nas universidades
de São Tomé e Príncipe

23.11.2023 -
As três
universidades de São
Tomé e Príncipe têm sido
confrontadas com o
aumento do abandono
escolar que atribuem
sobretudo à emigração de
jovens, uma realidade
particularmente visível
este ano letivo na
redução das inscrições.
“Essa
problemática de fuga dos
alunos na [Universidade]
Lusíada não é de hoje.
Temos casos de alunos já
no terceiro e quarto
ano, a quem o próprio
Governo atribui bolsas
de cursos profissionais,
e eles preferem sair do
país”, disse à Lusa o
presidente da
Universidade Lusíada de
São Tomé e Príncipe,
Liberato Moniz.
Na
Lusíada, como no
Instituto Universitário
de Contabilidade,
Administração e
Informática (IUCAI) e na
Universidade de São Tomé
e Príncipe (USTP), o ano
letivo começou este ano
mais tarde e sem os
habituais testes de
admissão devido à pouca
procura.
“Temos alunos
suficientes para as
turmas, mas não no
número desejado. Temos
uma média de 20 a 25
alunos por turma no
primeiro ano e sabemos
que esse não é um número
considerável, porque
muita gente está sempre
na perspetiva de sair do
país, o que não é de
hoje”, disse Liberato
Moniz.
A
pró-reitora da USTP,
Vanda Costa, disse que a
única universidade
pública do país foi
apanhada de surpresa e
teve que repensar a
estratégia que passou
pelo prolongamento das
inscrições e ter “turmas
cheias” no início “para
garantir alguns alunos
até à conclusão do
curso”.
“Alguns alunos, mesmo
com as bolsas, também
abandonam os cursos,
porque eles querem sair
[..] eles acreditam que
poderão ter mais
oportunidades fora de
São Tomé, porque também
não conhecem outra
realidade e então pensam
que o que está fora é
melhor do que estar cá”,
disse Vanda Costa em
declarações à Lusa.
O
reitor do IUCAI,
Agostinho Rita relatou
que as turmas que tinham
até 40 alunos nos anos
letivos anteriores, têm
apenas cerca de 15
alunos no atual ano
letivo, o que o leva a
considerar que “a
situação é bastante
preocupante”. Embora
nenhuma universidade
tenha realizado um
estudo para compreender
as verdadeiras causas da
redução de alunos e dos
abandonos, a emigração
tem sido apontada como a
principal causa.
“Essa
facilidade que neste
momento os nossos jovens
têm com os vistos da
CPLP veio só acelerar
aquilo que
paulatinamente vem
acontecendo nos anos
transatos”, disse a
pró-reitora da USTP,
acrescentando outras
causas, nomeadamente as
dificuldades financeiras
e a falta de incentivos
para os estudantes
continuarem a formação
no país.
O
presidente da
Universidade Lusíada
considera que a forma
como a política de
emigração foi
implementada “é má para
um país [como São Tomé e
Príncipe], onde já havia
pouca esperança” e “as
pessoas estavam
praticamente
desesperadas querendo
sair”. Liberato Moniz,
considera que para
atenuar a situação é
preciso criar “condições
dentro do país para que
os jovens sintam que há
razões suficientes para
que eles possam sonhar e
preparar o seu futuro”.
O
reitor do IUCAI defende
a facilitação do
processo de atribuição
das bolsas de estudo
internas, que atualmente
serve apenas para pagar
as propinas, devendo ser
alargada para integrar
despesas com o
transporte, alimentação,
habitação e materiais
didáticos.
O
presidente da
Universidade Lusíada,
por seu turno, defende
que “não se pode obrigar
a que o Estado esteja
sempre a sustentar estes
estudantes”, mas é
preciso que crie
condições para que se
“possam dirigir aos
bancos e obter créditos
que lhes facilitem
sustentar os seus
sonhos”. “Essas
alternativas têm que ser
discutidas ao mais alto
nível, não só ao nível
das instituições do
ensino superior.
A
entidade política tem
que pensar numa forma de
resolver”, defendeu o
diretor do Ensino
Superior, Ilvécio Ramos.
Este responsável disse
que no ano passado todo
o valor da bolsa interna
foi assegurado pelas
empresas petrolíferas,
num valor de
aproximadamente um
milhão de dólares.
“As
universidades também têm
que pensar noutras
alternativas”,
nomeadamente, encontrar
“parcerias externas”,
porque “deve haver
muitas outras formas de
obter dinheiro para as
universidades” e as
próprias universidades
“buscar bolsas para os
alunos para não
sobrecarregar o Estado”,
e “não ficar sentadas à
espera que seja apenas o
Estado a resolver o
problema”, sublinhou
Ilvécio Ramos.
