Reflexão
Se não
funciona o
julgamento
nos
tribunais, è
possível que
a
consciência
de um
individuo
lhe julgue?
Autor: João
Carlos
Fernandes
Lima do
Nascimento*
06.06.2014 -
*Professor
de
FísicaII-Segundo
Ciclo (Liceu
Nacional) /
Técnico
Superior do
Gabinete de
Estudos e
Planeamento
do
Ministério
da Juventude
e do
Desporto.
Caros
leitores,
antes de
iniciar a
minha
pequena
reflexão
convosco,
devo
dizer-vos
com toda
sinceridade
que sou um
leigo em
esta
matéria, não
sou
psicólogo,
embora
confesso já
ter lido
alguns
livros e
textos que
abordavam
temas de
alma para
uma vida
melhor. Devo
dizer também
que esta
reflexão,
baseia-se
num pequeno
texto da
minha
autoria, ” O
Ladrão.”
Eis o texto:
“ Há muitos
anos numa
cidade do
leste da
África havia
um ladrão
muito
perigoso,
isto porque
quase sempre
que ele
efectuava um
roubo,
assassinava
alguém. Mais
este ladrão
nunca tinha
roubado algo
de real
importância.
Certo dia,
pela
primeira vez
efectuou um
roubo numa
fábrica de
diamantes e
tornou-se o
homem mais
procurado
pelas
autoridades
e mesmo
antes de
acha-lo,
decretaram
uma pena de
morte
antecipada.
Cinco anos
passados, o
ladrão
apareceu
como um
grande
empresário,
tinha uma
nova
identidade e
fez uma
operação
plástica na
cara.
Portanto foi
bem recebido
pelas
autoridades,
investiu
muito no
país
empregando
várias
pessoas na
sua Empresa.
Depois teve
a
necessidade
de
procriação,
e teve um
casal de
filhos.
O ladrão
parecia ter
esquecido
completamente
da sua
antiga
história; os
roubos e os
crimes
cometidos.
Juntamente
com a sua
família a
assistir o
habitual
telejornal
da noite,
surge no
ecrã da TV
um
especialista
que diz:
A
investigação
sobre o
assalto à
fábrica de
diamantes há
muitos anos
ainda
continua.
Colocamos a
probabilidade
do ladrão
ter
efectuado
uma operação
plástica e
ter
adquirido
nova
identidade.
O
especialista
abordou
muito sobre
o assunto e
garantiu que
estão no
caminho
certo. Foi a
partir daí
que o ladrão
começou a
recordar de
tudo,
tornando
desta forma,
a sua vida
num mar de
infelicidades,
em que a sua
esposa e os
seus filhos
nunca
entendiam.
Neste mar de
infelicidades
enorme, o
ladrão
sentia-se
torturado
pela sua
própria
consciência
e com muitos
remorsos.
Estes
problemas
provocaram
aparecimento
de outros
problemas
mais graves
e o ladrão
acabou-se
por morrer.
A causa da
sua morte
foi
registada
como
perturbações
psicológicas
e as
autoridades
nunca
conseguiram
desvendar a
verdade
sobre o tal
famoso roubo
na fábrica
de
diamantes.”
Após a
leitura
deste texto
de ficção,
podemos
deduzir
facilmente,
que o dito
ladrão
escapou a
justiça dos
tribunais
mas não
conseguiu
livrar de
uma dura
condenação
do
julgamento
da sua
consciência,
que podemos
perceber que
a sentença
foi pena da
morte por
perturbações
psicológicas.
A capacidade
para
distinguir o
bem do mal
existe
potencialmente,
em todos os
homens, por
isso certos
filósofos
atribuíram
daí o seu
carácter
inato.
O inatismo
diversifica-se
em varias
escolas,
conforme
situa a
consciência
moral:
Ø
Na
afectividade;
Ø
Nas
tendências
instintivas;
Ø
Na razão;
Ø
Em Deus.
Segundo o
Kant, o
significado
da
consciência
moral
adquire uma
dimensão
nova: o
esforço.
Kant
caracteriza
o acto
moral,
subjectivamente
pela boa
vontade,
e
objectivamente
pelo dever.
A moralidade
será assim,
essencialmente,
vontade do
Bem.
A
subordinação
da
sensibilidade
à razão, ou,
como diz
Kant, do
«mundo da
natureza» ao
«mundo da
liberdade, é
o critério
da
moralidade
autêntica.
Moral,
racional e
livre são,
no
vocabulário
kantiano,
termos que
se
correspondem.
O que
significa
que,
qualquer
progresso no
caminho da
moralidade,
implica
progresso no
sentido da
liberdade e
da
racionalidade.
A
consciência
moral não é
pois, com
Kant, o
«senso
moral» dos
filósofos
ingleses
Shaftestbury
(1713) e
Hutcheson
(1747), nem
o «instinto
moral» de
Rousseau
(1778), nem
com origem
em Deus, mas
sim um
«imperativo
moral», que
é igualmente
um
«imperativo
racional»,
uma lei ou
forma da
razão - do
que Kant
chama a
«Razão
prática».
Quando os
comportamentos
de um
indivíduo se
navegam fora
da razão
prática e na
ausência de
tribunais
eficazes,
não implica
que o mesmo
estará
impune por
toda a sua
vida.
O julgamento
pode ser
efectuado
pela própria
consciência
do
indivíduo,
quando o
mesmo menos
esperar. Mas
para tal,
este
individuo
tem que ter
uma
consciência
certa, ser
capaz de
julgar o bem
como bem e o
mal como
mal. Por
outro lado,
existe
indivíduo
que tem uma
consciência
morta ou
errónea.
Na minha
opinião,
mais mortas
que possamos
definir a
consciência
de um
indivíduo
num
determinado
momento da
sua vida,
não se pode
considerar
um estado
absoluto de
consciência.
Pois este
estado pode
perfeitamente
vir no
futuro, num
contesto de
maior
sensibilidade
ou madures
na vida, a
passar a ser
definida
como meia
morta ou
mesmo uma
consciência
certa, isto
é julgando o
bem como bem
e o mal como
mal.
Nesta óptica
de ideia,
considerando
o futuro
como uma
variável
intrinsecamente
conectada a
surpresa,
qualquer um
de nós,
cultos,
ignorantes,
de maior ou
menor poder
financeiro,
está sujeito
a não
escapar de
julgamento
da
consciência,
quando menos
esperamos.
São Tomé, 6
de Junho de
2014
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