O Livros, sim; armas,
não!

09.05.2023 -
Athaliba, o atual
governo prega que a
política agora é mais
bibliotecas e menos
clubes de tiro. Isso,
por exemplo, amigo, se
contrapõe à censura de
clássicos da literatura
nas escolas, como
ocorreu no governo do
energúmeno mito pés de
barro.
Ele, que
tem aversão à cultura e
com testosterona
expelida pelo avesso,
estimulou o armamento da
população. Argumentava
que “o povo armado
jamais será
escravizado”. E
reforçava: “Comprem
armas, isso também está
na Bíblia; onde se diz
vende o teu manto e
compre uma espada”.-
Isso, Marineth, ele
discorreu em evento
promovido pela
Confederação da
Agricultura e Pecuária,
9/8 de 2022.
E o
general da reserva,
Walter Braga Netto
(candidato a
vice-presidente), à mesa
da reunião, aplaudiu,
com entusiasmo. À época,
o registro de novas
armas de fogo nas mãos
de civis batia recorde
do ano anterior,
atingindo a marca de
204,3 mil armas
licenciadas. Alta de
300% em relação as 51
mil armas registradas em
2018.
O acesso
à arma, para o mito pés
de barro, constituía
“preservação e
potencialização do
exercício de legítima
defesa”.- Athaliba,
ainda bem que o período
obscuro, indigesto, da
vida conjuntural
brasileira à qual
originou grande
retrocesso ao país está
se esvaecendo.
O mito
pés de barro de araque
deteriorou o que
tínhamos minimamente
organizado na sociedade.
Lá em Rondônia - ocê não
esqueceu não, né? -,
livros de Machado de
Assis, Mário de Andrade,
Nelson Rodrigues,
Euclides da Cunha,
Ferreira Gullar, Rubem
Fonseca e até de Franz
Kafka foram proibidos
nas escolas. Mais de 40
clássicos da literatura
foram recolhidos,
deixando professores
embasbacados,
apalermados.- Lembro
bem, Marineth, e não vou
esquecer jamais.
A
catastrófica proeza da
censura, conhecida como
“caça a conteúdos
inadequados”, teve a
chancela do então
governador Marcos Rocha.
Ele, natural do Rio de
Janeiro, coronel de
polícia de extrema
direita, fora eleito, em
2018, surfando nas águas
turvas que colocou o
mito pés de barro no
trono da presidência da
República.
Na
campanha e, após eleito,
afirmava que existia
doutrinação de esquerda
nas escolas, rotulada de
“marxismo cultural”.
Dizia que havia excesso
de textos e pedia mais
desenhos nos livros.- É
prá rir da idiotice,
Athaliba, e não chorar.
Cômico, como se não
fosse trágico. Acredito
que ocê também não tenha
esquecido os
desventurados ministros
de Educação. O 1º,
Ricardo Vélez Rodriguez,
colombiano e
naturalizado brasileiro,
queria mudar os livros
de história para
distinguir o golpe de
1964 como contragolpe
que salvou o Brasil do
comunismo.
O 2º,
Abraham Weintraub,
tentou intervir na
nomeação de reitores de
universidades federais.
Disse ele, numa reunião
ministerial: “Eu, por
mim, botava esses
vagabundos (os ministros
do Supremo Tribunal
Federal) na cadeia”. E
participou de
manifestações públicas
contra o STF.- Marineth,
infeliz o 3º ministro,
né? Foi anunciado
titular do MEC e não
tomou posse.- Pois é,
Athaliba.
Descobriu-se que o
Carlos Alberto Decotelli
da Silva não era doutor
pela Universidade
Nacional de Rosário, na
Argentina, como ele
afirmava no currículo. O
4º ministro, o pastor
presbiteriano Milton
Ribeiro, chegou a ser
preso, sob a acusação de
favorecer pastores na
distribuição de verbas.
Isso somado a crimes de
corrupção, prevaricação
e tráfico de influência.
O pastor
ocultava arma de fogo,
que disparou no
Aeroporto de Brasília.
Dizia que “os
homossexuais são
consequência de famílias
desajustadas”.- Além
disso, Marineth, o
pastor mandou imprimir
fotografias dele e,
também, dos pastores
Arilton Moura e Gilmar
Santos, na Bíblia.
Exemplares foram
distribuídos em evento
do Ministério da
Educação em Salinópolis,
no Pará, que reuniu
prefeitos e secretários
municipais.
Os
pastores Arilton e
Gilmar teriam pedido
propina em barra de ouro
em troca de acesso ao
então ministro e
liberação de verba,
conforme nos jornais,
revistas e sites
noticiaram no ano
passado.- Bem, Athaliba,
o desastroso mandato do
mito pés de barro
terminou com Victor
Godoy como 5º ministro.
Ele, braço direito do
pastor Milton Ribeiro e
que ocupava o cargo de
secretário-executivo.
Essa trágica explanação
no MEC se faz necessária
para confrontar com a
proposta do atual
governo.
A ordem é
focar no “direito
inalienável de todo ser
humano; a leitura vai
muito além dos livros e
trata-se de jeitos de
ler o mundo”, segundo
análise de Paulo Freire,
o Patrono da Educação.-
Marineth, a leitura é
capaz de arrancar véus
dos olhos!- Não duvido
disso, Athaliba. A
retomada do Plano
Nacional do Livro e
Leitura - PNLL - tem
tudo para mostrar à
sociedade que
fundamental, essencial,
é livros, sim; armas,
não! Crônicas do
Athaliba