Alguns
economistas
dizem que
nova crise
está a porta
e que podem
ser
benéficas
22.09.2021
-
Jean-Claude Trichet, (ex-Presidente
do Banco Central Europeu):
Afirmou que a actual
situação financeira mundial
encontra-se num plano tão
perigoso como em 2007 ano
que antecedeu a maior
falência financeira: Lehman
Brothers.
João César das Neves
(Professor Catedrático de
Economia): O cenário da
crise anterior ainda não
acabou e já estamos a
preparar a próxima, e a
próxima, quando vier e como
vier, vai ser pior porque
não resolvemos bem a
anterior, garante César das
Neves.
O economista lembra que o
crescimento da economia está
muito sustentado no consumo.
Para o economista, continua
a ser perigosa a intervenção
dos bancos centrais e a
injeção brutal de liquidez.
Estas medidas aliviaram
brutalmente os custos, mas
evitaram as reformas
essenciais que dariam
solidez ao sistema. Ainda
hoje continuamos a ter
injeção de liquidez dos
bancos centrais e taxas de
juro anormalmente baixas,
diz.Ricardo Paes Mamede
(Professor de Economia
Política do Instituto
Superior de Ciências do
Trabalho e Empresa)
Para Ricardo Paes Mamede,
grandes movimentos de
capitais geram grandes
oscilações cambiais e isso
cria dificuldades aos
países. Um dos principais
focos de tensão
internacional é precisamente
o facto de estarmos a
assistir a uma forte
desvalorização das moedas.
Dois desses casos são a
moeda turca e a moeda
argentina. Isso significa
que entidades públicas e
privadas desses países veem
o nível de dívida aumentar
da noite para o dia, refere.
O espoletar de uma crise não
é descartado pelo
economista.
E a justificação, de acordo
com o mesmo, está à vista. A
estagnação dos rendimentos
de trabalho desincentiva o
investimento na economia
real, o que se traduz num
crescimento económico
anémico. Escasseando as
oportunidades para
investimento produtivo, os
super-ricos e os países com
excedentes externos acabam
por aplicar as suas
poupanças em actividades
cada vez mais especulativas
(imobiliário, acções,
matérias-primas, etc.), que
quase não criam emprego e
geram grande instabilidade.
João Duque (Professor
Catedrático e Presidente do
Instituto Superior de
Economia e Gestão)
Os riscos existem sempre.
Tenho algum receio e que não
é infundado. O alerta é
feito por João Duque ao
afirmar que a situação
económica e financeira está
a agravar-se devido à
elevada injeção de massa
monetária em todos os
mercados.
O dinheiro abunda e é
barato. Se não houver
prudência por parte de quem
empresta, isso pode trazer
problemas para essas
instituições. No entanto,
garante que é difícil prever
quando isso irá acontecer. É
muito difícil apontar datas
porque o mundo é muito
volátil.
Aprendeu-se alguma coisa,
mas continuamos a ser
humanos e muito do que se
usou para combater a crise
provocou potenciais danos
colaterais fortes. É o caso
da massa monetária que, nos
últimos dez anos, em alguns
casos duplicou. O economista
lembra ainda aquilo a que se
tem assistido em torno da
loucura das criptomoedas e
da sua irracionalidade assim
como o crescimento do índice
bolsista, que na última
década aumentou 14% ao ano.
Não há justificação
económica para tais
crescimentos, de forma
sustentada, por tanto tempo.
Nouriel Roubini e Brunello
Rosa (cofundadores da
consultora Rosa & Roubini
Associates): Advertem num
artigo de opinião publicado
no Financial Times em 12 de
Setembro de 2018, para o
risco de estar a fermentar
uma nova crise financeira e
recessão global que poderão
tomar forma em 2020.
Numa altura em que
assinalamos os 10 anos da
crise financeira mundial,
têm surgido inúmeros
post-mortens que analisam as
suas causas e consequências
e que se questionam sobre se
aprendemos as necessárias
lições, referem. Por isso,
acrescentam, este parece ser
um momento pertinente para
perguntar quando – e porquê
– ocorrerá a próxima
recessão e crise financeira.
E ambos apontam para 2020
como o ano em que isso
poderá suceder. A expansão
global deverá continuar este
ano e no próximo – porque os
EUA estão a apresentar
grandes défices orçamentais,
a China prossegue as suas
políticas de estímulo e a
Europa mantém-se na vida da
recuperação. No entanto,
existem várias razões pelas
quais poderão surgir as
condições para uma recessão
mundial e crise financeira
em 2020, salientam.
Para começar, dizem, não só
os atuais estímulos
económicos nos EUA terão
terminado em 2020 como
também se espera um
constrangimento orçamental
que baixará o ritmo de
crescimento do país para
menos de 2%.
Por outro lado, uma vez que
os estímulos orçamentais nos
EUA foram inoportunos, a
Reserva Federal
norte-americana terá de
continuar a subir os juros
directores, que deverão
ascender a 3,5% em inícios
de 2020, consideram Roubini
e Rosa.
Os dois economistas falam
ainda sobre as fricções
comerciais dos EUA com a
China, Europa e os seus
parceiros do NAFTA [México e
Canadá], que dizem serem
sintomas de uma rivalidade
muito mais profunda do que
aquilo que aparentam – no
sentido de se determinar a
liderança global nas
tecnologias do futuro – e
cujo efeito será o de
abrandar o crescimento e
aumentar a inflação.
Roubini e Rosa aludem ainda
a outras políticas levadas
atualmente a cabo nos
Estados Unidos e que irão
redundar num enfraquecimento
da expansão económica e numa
subida dos preços no
consumidor. Entre elas estão
o controlo sobre o
investimento directo
estrangeiro e sobre a
transferência de tecnologias
[que perturbam as cadeias de
abastecimento], bem como as
restrições à migração numa
altura em que a população
está a envelhecer.
No resto do mundo a expansão
ficará debilitada por outras
razões, destacam. A China
irá ser lenta a lidar com a
sobrecapacidade e o
endividamento excessivo, ao
passo que os mercados
emergentes [muitos deles já
frágeis] serão ainda mais
penalizados pela valorização
do dólar, pela redução dos
preços das matérias-primas e
por uma China menos
fervilhante, consideram.
E apesar de a Europa já ter
perdido algum impulso, o
intensificar das tensões
comerciais e o fim das
políticas de estímulo
não-convencionais do Banco
Central Europeu são fatores
que significam que em 2020
terá perdido ainda mais
ímpeto. Os dois autores
chamam também a atenção para
os preços dos activos. A
maioria está efervescente,
se não mesmo em território
de bolha.
Roubini e Rosa advertem
igualmente para outros
mercados que estão a
fervilhar em todo o mundo e
a tornarem-se muito caros,
como é o da concessão de
crédito e do imobiliário –
tanto comercial como
residencial. Por outro lado,
os activos dos mercados
emergentes já corrigiram,
conforme se pode observar no
‘bear market’ das bolsas.
Mas a correcção, incluindo
nas matérias-primas e
obrigações, irá continuar,
sublinham no artigo de
opinião no FT.
Assim, os investidores que
antecipam um abrandamento
para 2021 vão começar a
atribuir novos preços aos
activos de risco a partir de
meados de 2022, antecipam
ambos os economistas.
Atendendo às alterações na
estrutura dos mercados desde
a crise financeira, assim
que ocorra uma correcção o
risco de falta de liquidez e
de venda em massa de acções
torna-se mais severo,
referem.
Por último, assim que esta
tempestade perfeita ocorra
em 2021, as ferramentas
disponíveis para os
responsáveis pela tomada de
decisões estarão
restringidas. A política
orçamental estará a ser
penalizada pelas maiores
dívidas públicas, mas o
regresso às políticas
monetárias não-convencionais
poderá ser frustrado pelos
balanços gigantescos dos
bancos centrais, apontam.
E os resgates, por seu lado,
enfrentarão um cenário de
espírito populista, bem como
países menos solventes.
Roubini e Rosa terminam com
um alerta: ao contrário do
que aconteceu há 10 anos,
assim que se dê a próxima
contração económica e
financeira, as ferramentas
políticas disponíveis para
reverter a situação irão,
muito provavelmente, ser
menos eficazes.
Kuing Yamang (Prof. Chinês
de Economia que viveu em
França): A Sociedade
Europeia está em vias de se
autodestruir. O seu modelo
social é muito exigente em
meios financeiros. Mas, ao
mesmo tempo, os Europeus não
querem trabalhar. Vivem,
portanto, bem acima dos seus
meios, porque é preciso
pagar estes sonhos.
Os industriais Europeus
deslocalizam-se porque não
estão disponíveis para
suportar o custo de trabalho
na Europa, os seus impostos
e taxas para financiar a sua
assistência generalizada.
Portanto endividam-se, vivem
a crédito. Mas os seus
filhos não poderão pagar 'a
conta'.
Os Europeus destruíram,
assim, a sua qualidade de
vida empobrecendo. Votam
orçamentos sempre
deficitários. Estão
asfixiados pela dívida e não
poderão honrá-la. Mas além
de se endividar têm outro
vício: os seus Governos
'sangram' os contribuintes.
A Europa detém o recorde
mundial da pressão fiscal. É
um 'inferno fiscal' para
aqueles que criam riqueza.
Não compreenderam que não se
produz riqueza dividindo e
partilhando, mas sim
trabalhando. Porque quanto
mais se reparte esta riqueza
limitada menos há para cada
um. Aqueles que produzem e
criam empregos são punidos
por impostos e taxas e
aqueles que não trabalham
são encorajados por ajudas.
É uma inversão de valores.
Portanto o seu sistema é
perverso e vai implodir por
esgotamento e sufocação. A
deslocalização da sua
capacidade produtiva provoca
o abaixamento do seu nível
de vida e o aumento do da
China!
Existe um outro cancro na
Europa: existem funcionários
a mais, um emprego em cada
cinco. Estes funcionários
são sedentos de dinheiro
público, são de uma grande
ineficácia, querem trabalhar
o menos possível e apesar
das inúmeras vantagens e
direitos sociais, estão
muitas vezes em greve. Mas
os decisores acham que vale
mais um funcionário ineficaz
do que um desempregado.
Schäuble (ex-Ministro das
Finanças da Alemanha): A
liquidez colocada no mercado
pelas autoridades monetárias
e a elevada dívida pública e
privada criam condições para
uma nova crise. Os aumentos
exponenciais da dívida a
nível mundial e da liquidez
nos mercados representam um
risco importante para a
economia internacional. Por
todo o mundo economistas
mostram-se preocupados com
os riscos crescentes da
acumulação de mais e mais
liquidez.
Frank-Jürgen Richter (antigo
responsável pelo Fórum
Económico Mundial): Em
declarações divulgadas pelo
Observador avisa que vamos
ter uma nova crise económica
global, a começar no
terceiro trimestre deste
ano, e vaticina que todos os
indicadores apontam nessa
direcção, de surgimento de
uma nova crise económica.
Há dois factores: a
tecnologia não é tão
promissora e célere como
era; e a guerra económica
entre os EUA e a China está
a fazer todas as empresas
perderem dinheiro, constata
Richter, frisando que é
preciso perceber que uma
crise vai acontecer e
encontrar os ‘cancros’ do
sistema bancário e resolver
os problemas no imediato.
Pode ser como foi em 2008,
mas há uma hipótese que seja
só uma recessão diz ainda,
na certeza de que será uma
“crise global” que afectará
países como Portugal. E para
o mercado imobiliário isto é
preocupante, nota. Só as
elites estão a ganhar com a
globalização e a classe
média está a encolher,
constata.
MAS AS CRISES PODEM SER
BENÉFICAS
A palavra crise vem do grego
krisis (κρίσις), que
significa mudança, e na
língua chinesa crise
escreve-se com 2 caracteres,
o primeiro significa perigo
e o segundo oportunidade.
Uma crise é uma mudança
brusca ou alteração
importante no
desenvolvimento de um evento
ou acontecimento, podendo
também ser uma situação
complicada ou de escassez.
Sabemos que a vida, enquanto
processo social, é um
suceder de crises, e neste
processo estamos sempre
diante de novos desafios,
novas situações e novos
problemas. Assim, as crises
são uma ocorrência normal,
tanto na vida pessoal e
familiar como na
profissional.
Na verdade não há
organização, como não há ser
humano que viva sem crises e
sem sentir ansiedade diante
delas. Mas as crises podem
ser benéficas, desde que se
tenha a capacidade de lhes
responder produtivamente.
Albert Einstein definiu
Crise assim: Não pretendamos
que as coisas mudem ao
fazermos sempre o mesmo. A
crise é a melhor bênção que
pode ocorrer a pessoas e
países, porque a crise traz
progressos.
A criatividade nasce da
angústia, como o dia nasce
da noite escura. É na crise
que nascem as grandes
invenções, os descobrimentos
e as grandes estratégias.
Quem supera a crise,
supera-se a si próprio, sem
ficar ″superado″. Quem
atribui à crise os seus
fracassos e penúrias,
violenta o seu próprio
talento, e respeita mais os
problemas do que as
soluções. A verdadeira crise
é a crise da incompetência.
O inconveniente das pessoas
e países é a esperança de
encontrar as saídas e
soluções fáceis. Sem crise
não há desafios, sem
desafios a vida é uma
rotina, uma lenta agonia.
Sem crise não há mérito. É
na crise que se aflora o
melhor de cada um. Falar de
crise é promovê-la e
calar-se sobre ela é exaltar
o conformismo. Em vez disso,
trabalhemos duro. Acabemos
de uma vez com a única crise
ameaçadora, que é a tragédia
de não querer lutar para
superá-la.
A maioria das pessoas encara
a crise como um período
muitodifícil, sendo comum
que as pessoas procurem uma
razão, um culpado ou alguma
forma de transmitir que as
coisas não estão a funcionr
como deveriam.
O diferente acontece quando
se tem um líder que assume
um papel que tem tudo a ver
com a sua qualidade mais
incrível: assumir
responsabilidades. Assim,
ele assume a frente, motiva
a equipa e responsabiliza-se
pelos resultados
conquistando a sua
confiança, estimulando todos
a trabalharem juntos para
vencer desafios.
Mas como é que o líder
exerce a liderança para
vencer na crise? Agindo de
maneira diferente, por
exemplo:
1. Não foge dos problemas:
procura entendê-los e
enxerga formas de os
transformar em oportunidade;
2. Motiva os colaboradores:
faz com que mantenham bom
ânimo para que todos dêem o
seu melhor;
3. É bom comunicador: dá
informação à equipa sobre o
seu desempenho para que os
valores sejam seguidos;
4. Está atento e aberto às
mudanças: nunca fica preso
ao passado ou às velhas
formas de fazer as coisas.
Está sempre atento ao que
acontece no mundo, investe
em soluções que ofereçam
melhorias contínuas.
Os dirigentes eficazes fazem
das crises uma oportunidade
de progresso, mostrando o
seu talento, pois não
sucumbem aos desafios nem se
desorientam, dominam-nas
mobilizando todos os seus
recursos.
Agem logo, de forma planeada
e preventiva, porque têm
presente que no universo da
gestão, onde as mudanças são
cada vez mais rápidas e
profundas, em que o futuro é
já presente, as crises bem
aproveitadas são,
normalmente, o anúncio do
progresso.
Por: Adrião
Simões
Ferreira da
Cunha
Estaticista
Oficial
Aposentado,
Antigo
Vice-Presidente
do Instituto
Nacional de
Estatística
de Portugal
Diário de São Tomé
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