Eis a Resposta Possível.
08..09.2021 - Há ou não
corrupção eleitoral em
S.Tomé e Príncipe? Eis a
questão que muito se
debate neste país em
períodos eleitorais. O
ideal, em qualquer
democracia, é que as
eleições sejam livres,
justas e transparentes.
E que a escolha recaia
sempre sobre a melhor
proposta de governação e
sobre o que tem melhor
perfil, de entre as
diversas candidaturas.
Nas Eleições
Presidenciais de 2021,
esta preocupação não
deixou tranquilo os
observadores e
cientistas políticos que
procuram compreender o
fenómeno eleitoral em
S.Tomé e Príncipe. As
eleições são realmente
livres e justas neste
país considerado durante
cerca de três décadas
como um bom exemplo de
democracia em África?
FOMOS A PROCURA DE
RESPOSTAS E SOLUÇÕES.
Registámos denúncias,
reclamações, evidência,
dúvidas, e conselhos.
Ouvimos personalidades
de relevo
representativas da
política, da sociedade
civil e das organizações
não-governamentais.
Escutamos simples
eleitores, uns pouco e
outros mais
esclarecidos. Registámos
palavras azedas e
vaticínios de um futuro
sombrio e opiniões
diversas sobre como será
este nos próximos anos
com o valor da livre e
justa escolha a ser
subvertido e ensombrado
pela troca por dinheiro
e demais bens materiais.
LÍDER DA CONFEDERAÇÃO
DOS MORADORES DE S.T.P
E DIÁSPORA DENUNCIA
CORRUPÇÃO ELEITORAL
O que pensa esta que é
umas das figuras
públicas representativas
da sociedade civil? Há
ou não corrupção
eleitoral? Quais os seus
contornos? Hermindo
Penhor, Presidente da
COFAMSTPD, Confederação
das Federações e das
Associações dos
Moradores de São Tomé e
Príncipe e Diáspora, crê
que existe e que deveria
ser “contrariada
por uma melhor
organização, contraria
sistema de votação em
São Tomé e Príncipe e na
Diáspora”.
Para este membro da
Sociedade Civil
Organizada, “a
troca de favores entre
quem dá dinheiro ou bens
materiais em troca de
votos está a corromper o
acto eleitoral”,
por isso defende “a
suspenção do actual
sistema” de
votação de modo que o
Estado são-tomense possa
melhor organizar o acto
eleitoral de tal maneira
que não seja necessário
haver estímulos
materiais para que os
cidadãos vão a urna
exercer o seu direito de
voto.
Embora não tenha
avançado qualquer
proposta sabe-se que em
vários países foi
adoptado o regime de
voto obrigatório.
Para o Presidente da
COFAMSTPD, a actual
forma de obtenção de
vitória eleitoral
“contraria o artigo 57º
da Constituição e
espírito da Carta
Universal das Nações
Unidas sobre os Direitos
Humanos”,
mormente sobre “a
livre e espontânea
escolha dos seus
representantes”.
Sobre as Eleições
Presidenciais de 18 de
Julho de 2021, Hermindo
Penhor é da opinião que
“houve sim compra
dos votos por parte de
alguns políticos já
conhecidos da nossa
praça”,
preferindo não avançar
qualquer nome, na medida
que são sobejamente
conhecidos, explicou.
“A compra de voto
é um negócio dos
políticos de forma a
chegar ao poder”,
denunciou, para depois
expressar a sua repulsa
por esta prática ilegal,
porque tal como
justificou “tem
suas consequências no
futuro”. Defende
a necessidade de “se
libertar povo, de
imediato, das garras de
políticos” e do
que chamou de
“multipartidários”.
DEFENDE REFORMA DO
PROCESSO ELEITORAL
QUE CONDUZA A VOTAÇÃO
SEM COMPRA DE
CONSCIÊNCIA
Deu como receita para
contrariar este estado
de coisa a “congregação
de cidadãos em blocos,
organizados e
legitimados na urna”
de modo a “quebrar
as barreiras que impedem
o desenvolvimento
sustentado durável”
de S.Tomé e Príncipe
de modo “a
garantir melhorias das
condições de vida de
cada cidadão”.
Hermindo Penhor, no
final da sua declaração
a nossa reportagem
defendeu a “suspensão
do processo eleitoral”
das Presidenciais 2021 “para
melhor organização”,
sem as condições que
facilitam a compra de
consciência dos
eleitores.
BISPO DOM MANUEL ANTÓNIO
CONTRA VENDA DE VOTOS
APELA AO VOTO CONSCIENTE
Num tom evangelizador, a
mais alta Autoridade
Católica são-tomense, o
Bispo da Diocese de
S.Tomé e Príncipe, Dom
Manuel António,
mostrou-se rigorosamente
avesso a compra de
consciência. Deixou
claro o seu repúdio
perante tal prática e,
num tom sereno, como lhe
é característico, fez
apelo para que “as
eleições em São Tomé e
Príncipe e na Diáspora
sejam regulares e não
viciadas por fraudes e
compra ou venda de
votos”.
Depois de condenar tal
prática viciosa, o Bispo
de S.Tomé e Príncipe
afirmou que “o
ideal seria que as
pessoas votassem em
consciência”.
VOTOS DEVE SER DADOS POR
GRATIDÃO
Apesar da tentativa de
se desvirtuar o sistema
de votação, para Dom
Manuel António, S.Tomé e
Príncipe ainda pode
“ser considerado um
país democrático”.
Reconhece haver uma
grande diversidades de
candidatos tal é o
número de concorrentes
as Eleições
Presidenciais de ano de
2021, como
“expressão da democracia
e da liberdade”.
Esta autoridade
religiosa é também de
opinião que neste país
“não há fragmento
ideológico entres os
candidatos ou entre os
partidos políticos”.
Daí que ao invés de
venderem o seu voto,
“deveria ser dado por
gratidão”,
adiantando ser verdade
que os cidadãos não são
coagidos literalmente a
vender o seu voto.
POBREZA É A CAUSA
IMEDIATA
Tal como muitos dos
interlocutores ouvidos
pela nossa reportagem, o
Bispo de S.Tomé e
Príncipe associa a venda
de votos “a
situação de pobreza em
que o país vive”.
Pois esta autoridade
cristã partilhou de
opinião dos que acham
que a grande maioria dos
são-tomenses aproveitam
o período eleitoral como
uma “ocasiões para
obter mais qualquer
coisa, ainda que sejam
umas pequenas ofertas”.
APELO À PAZ E RESPEITO
AO ADVERSÁRIO
Dom Manuel António, em
entrevista, expressou
também a sua inquietação
perante o risco de
eleições caracterizadas
por violência, fazendo,
por isso apelo para que
“se respeitem a
liberdade das pessoas,
de modo que haja um
ambiente democrático e
de segurança”.
O Bispo da Diocese de
S.Tomé e Príncipe fez
ainda apelo ao
“respeito pelo
adversário”,
pois para Dom Manuel
António “esta é a
única forma de haver uma
campanha sem violência e
num clima de paz”.
No final da entrevista
desejou que “Deus
nos ajude e que se
escolha um candidato que
melhor favoreça o
interesse do País”.
MODUS OPERANDI
Como se processa a
compra de consciência?
Com que meios? Quais os
corrompidos e quem são
os corruptores?
Fomos revisitar os
meandros da corrupção
eleitoral no País.
Observamos que tal
prática de angariar
favores eleitorais com
dinheiro e outros bens
materiais tomou conta de
S. Tomé e Príncipe por
inteiro. Não houve uma
só zona de S.Tomé e
Príncipe que ficou de
fora. Será que algum
popular cidadão escapou?
É difícil de se concluir
pela forma generalizada
como que se passou. Uns
mais subtis, outros mais
escancarados. Não faltou
aqueles que se deram ao
luxo de clara
ostentação.
Os ativistas dos
principais concorrentes
nestas Eleições
Presidenciais 2021 não
regatearam meios, num
esforço para ganhar logo
a primeiro ou para
passar à segunda volta
em posição de grande
vantagem. Esta foi a
mais concorrida de
sempre na terra dos
são-tomenses. Era tudo
por tudo, pois havia o
risco real de dispersão
de votos, tendo em conta
o número elevado de
concorrentes. São 19 os
presidenciáveis que
disputaram o pleito.
Muitos digladiadores
para uma pequena arena
de cerca de uma centena
de milhares de
eleitores.
NUNCA O VOTO FOI TÃO
CARO
Registamos os valores.
Nuns casos, os potencias
votantes chegaram a
receber entre 50,00
Dobras à 300,00 Dobras
para votar. No caso
de boca de urna, isto no
dia da votação, caso há
em que os valores eram
em centenas de Dobras,
recebidos metade antes
do voto, e a outra
contraparte quando
regressassem para
mostrar o dedo pintado
com tinta indelével.
Tudo na base de
confiança. Desta vez não
se confirmou a famosa
ida com boletim
preenchido para trazer
outro já assinado pelos
escrutinadores e por
preencher.
Muitos eleitores ficaram
à espreita nas esquinas.
Deixaram o acto de votar
para mais tarde.
Plantavam-se nas
esquinas na esperança de
que a parada subisse.
Não escondiam o desejo:
“É dinheiro para
povo mesmo”,
diziam alguns populares
menos envergonhados ou
sem qualquer pudor.
Foi assim em Cruzeiro,
Pantufo, Trindade,
Caldeiras, na cidade de
Angolares. Foi por toda
parte que percorremos,
no centro, no sul e no
norte. Não houve
localidade alguma que
escapou-se da feira de
voto.
A festa da Dobra e
cervejas começou antes
do dia da chamada boca
de urna. Já no mês de
Junho que a festa tinha
começado, em plena
pré-campanha. Foram
milhares de reuniões de
sensibilização e para
apresentação de
candidatos.
Multiplicaram-se como
ervas em campo fértil
dias depois de uma
grande chuvada. Todas
terminavam com a mesma
novena. Em vez de
acenderem a tocha como é
tradições em vésperas de
festas populares
religiosas, era quase
todos com o mesmo
discurso. “Não
trouxemos muita coisa.
Dá para comprar alguma
coisa para beberem”.
“ZUCHI MOM FISSADO
VERSUS ZUCHI MOM BÉTU”
Os esclarecedores
visitantes não se
referiam exclusivamente
as cervejas. Pois houve
quintais em que os
populares preferiam
vinho, outros optavam
pelo dinheiro
fresquinho distribuído
aos presentes. Nuns
casos 20,00, 50,00 e
até 100,00 Dobras
por cada “cidadão já
esclarecido”. A
parada subia em função
do nível dos candidatos.
Houve os que não deram
nada. Mas só não foram
escorraçados porque
tocavam os corações
populares, poucos, mas
presentes, pelos
discursos em que davam a
entender que os
candidatos iriam usurpar
as funções do Governo
para serem um Presidente
da República que vai “fornecer
água a todas as
residências dos
são-tomenses”,
massificar a oferta de
“bolsa para todos
os filhos do povo”,
ou até tão somente
“aumentar salários
para que o povo possa
viver melhor”.
VISTA GROSSA AO PERIGO
DE COVID 19
Os ganhos em voto e em
benesses sobrepuseram-se
ao medo do vírus de
covid 19. O elevado
risco de contaminação
foram ignorados. A
vitória sobrepôs-se ao
valor da vida humana em
risco eminente. Foram
centenas e até milhares
de pessoas aglomeradas
em concentrações e
falsas passeatas que
encapotaram autênticos
comícios populares.
Mesmo perante os apelos
das autoridades
sanitárias, todos ou
quase todos fizeram
vista grosa.
Não houve lucham,
terraços, quintais
grandes, antigas
senzalas de ex-empresas
agrícolas, um pouco pelo
país a dentro, que
escapou do vendaval de
sessões de
esclarecimento e de
apelo ao voto, mesmo
ainda antes de prazo
determinado por lei.
O BOOM DE CAÇA AO VOTO
Foi mesmo no dia 18. Foi
sem máscaras. Uns mais
que outros. Distribuíram
bens materiais, desde
comeres e bebidas,
passando por ofertas de
alimentos não
perecíveis, vinho e
cervejas. Não faltou o
chamo “cuéle de
banho”, em
envelopes ou sem
disfarce.
Há que sublinhar os
casos em que os
eleitores receberam
metade do valor do
“banho” antes da
votação e outra metade
depois de regresso do
acto sem antes mostrarem
o dedo pintado pela
tinta indelével para
provar o “fiel voto”
de todos ganhos do dia
mais esperado das
eleições.
Muitos ativistas de
renome da praça pela
capacidade reconhecida
de realização de
campanhas eleitorais, em
nome dos principais
candidatos, patrocinaram
ou eles próprios
realizaram em várias
localidades pequenos
festivais de comes e
bebes ao som de música
sábado à noite, véspera
do dia de votação,
“para animar a
reflexão”
como disse em plena
empolgação um desses
profissionais.
SOCIÓLOGO OLÍVIO DIOGO:
CORRUPÇÃO ELEITORAL EM
PROPORÇÃO ASSUSTADORA
A corrupção eleitoral
está a assumir
proporções assustadoras
de tal modo que está
provocar muita
inquietação entre os
analistas sobre o perigo
que corre a democracia
em S.Tomé e Príncipe.
Um desses analistas é o
sociólogo Olívio Diogo,
para quem chegou-se ao
cúmulo de uma franja de
eleitores “solicitar
estímulo para ir votar”.
Outro sinal de
preocupação que
constatou é que
“houve candidato que
esbanjou tanto dinheiro
na compra de votos”,
disse incrédulo perante
a pobreza que assola o
país. “Isto pode
ser um perigo”,
acredita Olívio Diogo.
Para contrariar tal
perigo, segundo este
sociólogo, “é
preciso que autoridades
responsáveis pela
aplicação da lei tomem
medidas” para
travar esta situação que
“pelo seu contorno
pode se estar perante
actos criminosos. E é
urgente saber de onde
realmente vem tanto
dinheiro”.
Para este activista
social, o combate ao
chamado “banho”
vai levar tempo para que
todos os intérpretes
políticos e os cidadãos
comuns parem com a
compra de consciência.
“Este é um grande
prejuízo. Provoca grande
atraso ao processo de
desenvolvimento de
S.Tomé e Príncipe”,
desabafou num tom de
revolta.
Ninguém se preocupa com
programa de governação
ou com projecto de
sociedade,
respectivamente para os
casos de Eleições
Legislativas, Regionais
e Autárquicas, e as
Presidenciais.
Diante desta situação,
Olívio Diogo aconselha
os eleitores
são-tomenses em geral
“a votarem de acordo
com a sua própria
consciência,
independentemente do
estímulos que possam
receber ou não”.
DIRETOR DA ASPAF ALERTA
PARA
CONSEQUÊNCIAS DO
"FENÓMENO BANHO”
Arlindo Ruyvo, é outro
activista social. É
Director de Programas da
Associação Santomense
para Planeamento
Familiar (ASPAF). É,
como não poderia ser de
outra forma, um
inconformado com o
perigoso desvio que vem
manchando, a cada ano
que passa, o processo
democrático em S.Tomé e
Príncipe.
Para este observador,
tornou-se recorrente, de
norte a sul do país,
saber que os votos são
comprados com uma
extensa lista de
benesses, como dinheiro
vivo, materiais de
construção, cesta
básica, combustível,
televisor, e sessões de
comer e beber. “Vemos
rios de dinheiro a
escorrer pelo país.
Todos a comprar
consciência dos
eleitores”,
constatou com repulsa
Arlindo Ruyvo,
expressando o seu receio
quanto a origem duvidosa
dos fundos. Ele acha e
bem que pode vir a pôr
em perigo a
tranquilidade colectiva
do povo são-tomense.
Tal como muitos cidadãos
conscientes das
eventuais consequência
para a paz,
tranquilidade, liberdade
e soberania de S.Tomé e
Príncipe, o Director de
Programas de ASPAF, é de
opinião que
“deveríamos todos
procurar saber quanto
vai custar ao País”
todos este dinheiro
esbanjado. E vai mais
longe, e questiona:
“Será o país ou o
povo a pagar por um
dinheiro cuja
proveniência se
desconhece”.
SOLUÇÃO:
FÓRUM NACIONAL E UMA LEI
SANCIONATÓRIA
O Director de Programas
da Associação Santomense
para Planeamento
Familiar (ASPAF) pensa
ser possível combater-se
o “fenómeno banho”.
Para tal, este activista
social sugere que, antes
do início das campanhas
eleitorais, “todos
os concorrentes”,
individuais ou
colectivos, “devem
apresentar sua proposta
de orçamento” de
campanha, “de
forma a pôr cobro a este
fenómeno” e
deste modo fazer com que
“as eleições sejam
efectivamente livres,
justas e transparentes”.
Além disso, Arlindo
Ruyvo acredita haver
necessidade de fazer-se
um trabalho de casa.
Para isso, propõe que
seja engajada a
sociedade em geral,
desde a Comissão
Eleitoral, ao Governo,
Sociedade Civil,
políticos, organizações
religiosas e até
Organismos
Internacionais. Adiantou
que “deve ser
organizado um Fórum”,
cuja o “tema deve
ser o combate à
corrupção eleitoral com
a participação de todos”.
No concernente a
legislação, o activista
social
Arlindo Ruyvo defende a
adopção de “uma
Lei da República que
sanciona” os
candidaturas,
nomeadamente os Partidos
Políticos e as figuras
políticas, que demandam
os pleitos, tanto as
Presidenciais como
Legislativos, Regionais
e Autárquicos, que
recorram à corrupção de
eleitores como forma de
obtenção de voto
popular. E remete a
responsabilidade de
garantir o cumprimento
desta Lei ao Tribunal
Constitucional e a
Comissão Eleitoral.
Reportagem de João
Soares