"Eleição mostra
maturidade" dos
são-tomenses" diz
Olívio
Diogo, analista político
são-tomense à RFI
29.07.2021 -
Carlos Vila Nova,
candidato da Acção
Democrática
Independente, vai
disputar a segunda volta
das eleições
presidenciais com
Guilherme Posser da
Costa, candidato do
MLSTP PSD. O analista
político Olívio Diogo
considera que a primeira
volta das eleições
presidenciais, que teve
lugar no domingo,
mostrou a maturidade do
eleitorado são-tomense.
RFI: Que
análise faz dos
resultados da primeira
volta das eleições
presidenciais?
Olívio
Diogo: Foi uma
eleição de lição, porque
o povo são-tomense
mostrou a sua
maturidade, o povo
são-tomense mostrou que
está destinado a eleger
aqueles candidatos que
trazem alguma diferença
para a sua vida e não
aqueles que ao longo da
campanha vêm oferecendo
coisas. A outra lição
que se deve tirar desta
eleição é que o fenomeno
banho tem de
desaparecer. O povo
são-tomense demonstrou
civismo, transformou a
eleição numa festa.
Uma
segunda volta com o
candidato Carlos Vila
Nova e Guilherme Posser
da Costa era previsível?
Se formos
analisar os resultados
das últimas eleições
legislativas era
previsível. A ADI ficou
em primeiro lugar, o
MLSTP-PSD ficou em
segundo lugar e em
terceiro lugar ficou o
MDFM-PCD. Mas se
analisarmos os factos do
desenrolar da campanha
eleitoral não era
previsível. Na campanha
eleitoral o Delfim Neves
mostrava muita mais
pujança, mostrava muita
mais gente em torno da
sua candidatura, o que
podia prever que uma
segunda volta seria
entre Vila Nova e
Delfim. O Candidato Vila
Nova via-se claramente
que, se houvesse uma
segunda volta, ele
estaria presente, porque
ele pertencia a um eixo
diferente de Guilherme
Posser da Costa e de
Delfim Neves.
O
candidato Delfim Neves
fala em fraude massiva e
assegura que vai
contestar os resultados.
O que é que a lei
eleitoral prevê nesta
situação?
A
contestação é um direito
que assiste a qualquer
candidato. A lei diz que
a contestação deve ser
feita na mesa de voto,
são os candidatos dos
partidos políticos que
indicam os membros que
estão na mesa, são eles
que indicam os
delegados.
O
candidato Delfim Neves
diz que como eram 19
candidatos apenas cinco
delegados podiam estar
na mesa e que não podia
contestar uma mesa onde
ele não estava presente.
Fazia
parte das regras do
jogo. Tendo 19
candidatos, a lei prevê
que só pode haver cinco
delegados por mesa, não
se podia fazer outra
coisa. O Candidato
Delfim Neves, sabendo de
antemão que haveria os
cinco delegados, tinha
de criar outros
mecanismos de segurança
e vigilância das mesas
onde ele não tinha
delegados. Ele deixou as
coisas desenrolarem e
agora está a catapultar
para uma contestação que
viola o que diz a
Constituição no que
refere à contestação. A
ver vamos, é um direito
que lhe assiste, vamos
ver até onde vai a sua
contestação.
Delfim
Neves é o grande
perdedor das eleições
presidenciais?
Delfim
Neves é o grande
perdedor, tendo em conta
a estratégia que ele
apresentou para esta
campanha. Apresentou uma
proposta errada, apostou
numa campanha de
esbanjar dinheiro para
pessoas que são de
outros partidos,
sobretudo pessoas do
ADI. Ele foi comprar
para pôr ao seu lado,
dando dinheiro para
votar nele. A segunda
estratégia errada de
Delfim Neves foi ter
distribuído cabazes. Nós
passamos uma época de
pandemia em que as
pessoas precisavam,
Delfim Neves não deu
nenhum cabaz. Delfim
Neves perdeu essa
eleição clara e
inequívoca e é preciso
que ele tire elações
daquilo que foi o seu
resultado nessas
eleições daqui para a
frente.
Que
alianças políticas
poderão ser feitas nas
próximas
semanas?Guilherme Posser
da Costa pode vir a
beneficiar dos votos que
arrecadaram os outros
candidatos do MLSTP-PSD?
Não é
certo que o candidato
que vier apoiar
Guilherme Posser leve
consigo os seus
eleitores. Os
são-tomenses não são tão
alinhados assim. Agora
se o Guilherme Posser da
Costa vier a arrecadar o
eleitorado que apoiou
Delfim Neves [sairá
beneficiado]. Outra
coisa que é preciso
perceber é como é que se
vai posicionar a cúpula
do MLSTP-PSD. O
MLSTP-PSD partiu para
esta eleição com vários
candidatos (Maria das
Neves, Elsa Pinto, Jorge
Amado, Victor Monteiro e
Aurélio Martins) é
preciso saber como é que
Guilherme Posser da
Costa vai estabelecer
laços, vai tentar
negociar para obter
apoio destes candidatos.
Nesta
primeira volta Abel Bom
Jesus obteve 2907 votos,
ele é a grande surpresa
destas eleições?
Abel Bom
Jesus é a grande
surpresa, outro grande
vencedor dessas
eleições. Foi a primeira
vez que ele se
apresentou nas eleições
e obteve mais de 2 mil
votos e nunca esteve na
política. O grande apoio
de Abel Bom Jesus veio
da diáspora. A disporá
são-tomense mandou uma
clara mensagem aos
políticos para
perceberem que realmente
têm de dar atenção
àquilo que eles não dão
atenção. Isto é mostrar
que há muita gente,
sobretudo na diáspora,
que não aposta mais nos
políticos tradicionais.
Abel Bom
Jesus poderá fazer uma
indicação de voto?
É natural
que Abel Bom Jesus vá
fazer uma indicação de
voto, não há grande
surpresa. Abel Bom Jesus
foi militante da ADI,
tudo indica que ele vai
fazer a sua indicação de
voto a favor de Carlos
Vila Nova.
Nesta
primeira volta a
abstenção rondou os 30%,
este resultado indica
que os são-tomenses
estão desiludidos com os
políticos?
Eu fiquei
surpreendido com os
números da abstenção.
Este resultado demonstra
que os são-tomenses
declinaram o crédito que
têm em relação aos
políticos. Esta é outra
lição que devemos tirar
desta eleição. Outro
aspecto que queria
deixar claro é que o
candidato Guilherme
Posser da Costa e o
candidato Vila Nova têm
de partir agora para o
terreno para atrair um
conjunto de eleitores
para obter uma vitória
nas eleições, sem vir
com a mesma situação que
está agora a levantar
Delfim Neves, referindo
que houve fraude. Em São
Tomé e Príncipe não há
fraude. (RFI)