Entrevista Exclusiva de
Jorge Bom Jesus
ao Mercados Africanos
09.02.2021 - Colocámos
nos bancos cerca de três
milhões de dólares para
dar alguma robustez e
consistência às empresas
nacionais”
Jorge Bom
Jesus disse em
entrevista ao Mercados
Africanos que o seu país
encontra-se num melhor
caminho, dois anos
depois de uma governação
que iniciou com “os
cofres do estado numa
situação calamitosa”.
“Basta dizer que
herdamos um país
completamente apagado,
com menos de dez
megawatts para uma
procura de
aproximadamente 20
megawatts.
Portanto
já dá para imaginar em
que estado estava o
país”, disse Jorge Bom
Jesus, cujo país é
eletricamente alimentado
pelas energias térmicas.
Jorge Bom Jesus disse
que recebeu o país com
“imensos problemas”
económicos, sociais e
financeiros, e uma
sociedade dividida
devido a problemas
políticos.
“Havia o
problema dos salários,
herdámos um país em que
durante o três últimos
meses, setembro, outubro
e novembro se tinha
recorrido aos bancos
comerciais para pagar
salários com tudo o que
isso comporta em termos
de falta de pagamento a
segurança social entre
outros”, explicou. Jorge
Bom Jesus referiu-se a
várias “debilidades” que
ser está a “superar a
pouco e pouco” incluindo
os problemas energéticos
“resolvidos” com apoios
das empresas
petrolíferas que operam
no país.
“Mas um
dos grandes problemas
que encontramos e
continuamos a ter é um
tecido empresarial
totalmente
descapitalizado e foi
preciso, a pouco e pouco
– e ainda não o
conseguimos fazer na
totalidade – reabilitar
esse tecido empresarial
e neste momento, com
apoio dos parceiros,
colocámos nos bancos
cerca de três milhões de
dólares para dar alguma
robustez e consistência
às empresas nacionais”,
acrescentou ele.
Adianta
que esse processo tem
sido feito com apelo a
investimento de capital
privado estrangeiro, uma
“dinâmica que começamos
estimulando a atração do
investimento direto
estrangeiro”. Considera
que os “efeitos
desejados” desse apelo
ainda não se
concretizaram, mas
“muitas empresas vão se
instalando” e vários
processos estão em
curso.
Nesse
âmbito lembrou um
“grande projeto” de
investimento em curso
que é a Zona Franca de
Malanza, no sul da ilha
de São Tomé que o
primeiro ministro
considera de “um
investimento grande” que
está a receber “os
últimos retoques” para
estar concluído.
Mencionou
também um projeto que já
está em funcionamento,
designadamente as Águas
de Bom Sucesso, um
investimento acima de
dois milhões de euros,
além de várias
instâncias a nível do
turismo que estão a
instalar-se,
particularmente um
investimento do cidadão
francês cuja história o
Mercados Africanos já
publicou.
No
entanto, lamentou que o
período da pandemia que
o seu país vive “quebrou
o ímpeto de muitos
negócios”, mas “tem fé”
que logo que este
momento difícil se
ultrapassar o seu
governo vai conseguir
atrair esses
investimentos. Jorge Bom
Jesus considera o efeito
económico e social da
Covid-19 como “um
verdadeiro holocausto”,
que “está a superar as
duas guerras mundiais”.
“São Tomé
e Príncipe, um pequeno
país periférico vai
lidando com a situação
como pode e felizmente
temos contado com a
generosidade, a
sensibilidade dos nossos
parceiros de
desenvolvimento tanto
multilaterais como
bilaterais, o que nos
permitiu em termos
sanitários termos
atingidos até este
momento somente 18
óbitos, o que é
lamentável, mas
comparando com outros
quadrantes, estamos
muito aquém da
mortandade que tem
estado a acontecer pelo
mundo fora”, disse.
Jorge Bom
Jesus diz que apesar da
Covid-19, do ponto de
vista económico e
financeiro o seu país
conseguiu no final de
2020 um crescimento de
cerca de 3% “terminámos
o ano – os dados estão a
ser compilados – mas
inicialmente havia a
previsão de uma receção,
mas conseguimos um
crescimento de cerca de
três por cento, em
termos de reservas
líquidas externas com
quatro meses de
importação, o que para
nós já é bastante bom”,
sustenta Jorge Bom
Jesus.
A
inflação, num dos mais
pequenos países
africanos cresceu,
entretanto, para cerca
de 9,4%, mesmo assim o
primeiro ministro de São
Tomé e Príncipe
considera que o
desempenho
macroeconómico “parece
satisfatório”,
comparativamente com
aquilo que considera “as
previsões mais
pessimistas”.
Com um
Orçamento Geral do
Estado aprovado, situado
na ordem dos 166 milhões
de dólares, lançou-se o
projeto de retoma
económica pós-Covid-19,
apesar da doença entrar
na sua segunda vaga.
“Vamos continuar a
trabalhar no sentido da
retoma económica.
Naturalmente que na
vertente sanitária temos
que ter os dados
controlados, temos agora
essa segunda vaga (da
pandemia), os dados
estão a crescer,
sobretudo ao nível da
Região Autónoma do
Príncipe e aqui em São
Tomé também, há algum
relaxamento da
população, mas estamos a
trabalhar no sentido de
sensibilizar as
populações sobretudo
para aquelas regras
básicas como a
higienização, o
distanciamento e o uso
das máscaras”, explica
Jorge Bom Jesus ao
Mercados Africanos,
garantindo que o seu
governo “vai apertar
ainda mais” os dois
pontos de entrada no
país, designadamente o
porto e aeroporto.