Camões e Amílcar Cabral
separados por quatro
séculos e unidos na
defesa das causas
04.09.2024 -
O poeta e o líder
africano serão ambos
homenageados no XII
Encontro de Escritores
de Língua Portuguesa,
que decorre entre
quinta-feira e domingo
na Praia, capital
cabo-verdiana.
Quatro
séculos separam os
nascimentos do poeta
Luís Vaz de Camões e do
líder africano Amílcar
Cabral, mas a sua
“invulgar cultura” e
convicção pelas causas
uniu-os e este ano serão
ambos homenageados num
encontro de escritores
lusófonos.
“Eram
pessoas de uma invulgar
cultura”, disse à
agência Lusa o
secretário-geral da
União das Cidades
Capitais de Língua
Portuguesa (UCCLA),
organização que,
juntamente com a Câmara
Municipal da Praia,
promove o XII Encontro
de Escritores de Língua
Portuguesa, que decorre
entre quinta-feira e
domingo na capital
cabo-verdiana.
Vítor
Ramalho refere-se a
Camões e a Amílcar
Cabral como “homens que
defendiam causas”: “Isso
é muito importante nos
dias de hoje, em que as
respostas, mesmo do
ponto de vista de alguns
políticos
internacionais, ou tidos
como tais, e não só, têm
posturas pragmáticas de
navegação à bolina, sem
que haja uma projeção
relativamente ao
futuro”.
“Luís de
Camões foi uma
personalidade invulgar
da cultura universal, um
homem que tinha uma
vivência muito grande,
pessoal, mas também uma
cultura muitíssimo
enriquecedora dele
próprio e enriquecedora
para os outros”, disse.
Sobre os
Lusíadas, considera que
se trata de “uma
obra-prima, que é
reflexo daquilo que ele
entendia que era o génio
do povo português, sendo
ele também naturalmente
a encarnação dessa
genialidade, e projetou
uma obra que é uma obra
sempre de futuro, sempre
atual”.
Em
relação a Amílcar
Cabral, considerado o
“pai” da independência
de Cabo Verde e da
Guiné-Bissau,
identifica-o como “uma
personalidade de causas”
e sublinha uma das suas
frases, quando afirmou
que a luta que o povo
cabo-verdiano e
guineense desenvolveu
não era contra o povo
português, mas uma luta
contra um regime que
oprimia, embora em
formas diversificadas,
também o povo português
e, naturalmente, os
povos colonizados.
Cabral
“teve a premonição, com
vista à luta em prol dos
dois países – nasceu num
[Guiné-Bissau] e viveu
muitos anos noutro [Cabo
Verde] –, que a luta da
libertação de Cabo Verde
não podia deixar de ser
associada à da Guiné,
porque não havia
condições em Cabo Verde
para a independência
decorrente de uma guerra
de guerrilhas que nas
dez ilhas não havia
hipótese de ser
desenvolvida”.
O quinto
centenário do nascimento
de Camões e o primeiro
de Cabral, que se
assinalam este ano,
justificam a homenagem
que ambos terão na
Praia, que vai acolher
vários escritores
lusófonos, num encontro
que tem como tema geral
“Literatura, Liberdade,
Inclusão”, uma escolha
que levou em conta os 50
anos do 25 de Abril, que
se comemora em 2024.Além
das homenagens, os
participantes –
escritores de todos os
países de língua oficial
portuguesa, mas também
de Macau e da Galiza –
irão “tratar com
pluralidade” o tema
central.
“Vai
estar uma plêiade muito
significativa de
escritores, desde logo
dois Prémios Camões, que
são aliás cabo-verdianos
- Germano de Almeida e
Arménio Vieira -, para
além de intelectuais de
todos os nossos países,
sem exceção”.Segundo a
organização, marcarão
presença Alfredo
Ferreiro Salgueiro
(Galiza), António
Correia e Silva (Cabo
Verde), Arménio Vieira
(Cabo Verde), Augusta
Teixeira (Cabo Verde), o
comandante Pedro Pires
(Cabo Verde), Daniel
Mendes (Cabo Verde),
Domício Proença Filho
(Brasil, por vídeo),
Fernanda Ribeiro
(Brasil), Germano
Almeida (Cabo Verde),
Inês Barata Raposo
(Portugal), Isabel
Alçada (Portugal, por
vídeo), Jorge Arrimar
(Angola e Macau), José
Luiz Tavares (Cabo
Verde), José Pires
Laranjeira (Portugal),
Luís Cardoso (Timor),
Luís Carlos Patraquim
(Moçambique), Mário
Lúcio (Cabo Verde),
Nardi Sousa (Cabo
Verde), Olinda Beja (S.
Tomé e Príncipe), Rita
Marnoto (Portugal), Tony
Tcheka (Guiné Bissau),
Vera Duarte (Cabo
Verde), Cheila Delgado e
Paulo Veríssimo
(moderadores).
MBA //
ANPLusa/Fim