Líder da oposição
são-tomense pede
divulgação do relatório
da
CEEAC sobre assalto ao
quartel

22.02.2023 -
O
MLSTP/PSD (oposição
são-tomense) apelou hoje
aos membros da
Comunidade Económica dos
Estados da África
Central (CEEAC) que
autorizem a publicação
do relatório da missão
desta organização sobre
o assalto e mortes
ocorridas no quartel
militar.
"Apelar
aos chefes dos
Estados-membros da CEEAC
para que estejam
conscientes da gravidade
dos acontecimentos de 25
de novembro e do perigo
que representa para o
nosso país o não
esclarecimento destas
ações e autorizem a
publicação deste
relatório, de forma que
o povo de São Tomé e
Príncipe e a comunidade
internacional possam
conhecer a verdade dos
factos e não permitir
que outras teses sejam
construídas e
propagadas, com a clara
intenção de
branqueamento desta
grave e eventual
desresponsabilização dos
seus verdadeiros
mandantes e autores
materiais", pediu hoje o
Movimento de Libertação
de São Tomé e
Príncipe/Partido Social
Democrata (MLSTP/PSD),
num comunicado de
imprensa, lido pelo
porta-voz, Wuando
Castro.
Na semana
passada, o presidente da
Comissão da CEEAC,
Gilberto Veríssimo,
disse à Rádio France
Internationale (RFI) que
o relatório preliminar
de uma missão desta
organização, que esteve
em São Tomé durante
quase um mês, após os
acontecimentos de 25 de
novembro, será
apresentado no próximo
sábado aos chefes de
Estado e de Governo da
organização durante uma
cimeira que se realizará
na República Democrática
do Congo, em que deverá
participar o Presidente
são-tomense, Carlos Vila
Nova.
"O papel
do Presidente da
República Carlos Vila
Nova, que estará
presente nesta cimeira
em representação de São
Tomé e Príncipe, será
fundamental, pelo que
apelamos também ao seu
patriotismo e sentido de
Estado para se
posicionar a favor da
publicação deste
relatório", disse o
MLSTP.
"A pedido
do senhor Presidente da
República e do senhor
primeiro-ministro
[são-tomenses], a CEEAC
enviou no dia 29 de
novembro uma missão de
constatação de factos,
missão que esteve até 21
de dezembro em São Tomé
e Príncipe e que teve
oportunidade de tratar
com algumas autoridades,
visitar o quartel em que
ocorreram os factos,
falar com algumas das
pessoas tidas como
protagonistas no
ocorrido. Há um
relatório preliminar,
que foi feito, que já
está em minha posse, e
que eu apresentarei aos
chefes de Estado da
CEEAC no dia 25 de
fevereiro", disse
Gilberto Piedade à RFI.
O
diplomata angolano
afirmou que "as provas
são públicas" e que "é
muito difícil que alguém
possa dizer que os
vídeos, as fotos sejam
montagens porque foram
divulgados imediatamente
depois dos factos".
Entretanto, num
comunicado de imprensa
datado de sábado, o
Governo são-tomense,
chefiado por Patrice
Trovoada, lamentou "a
atitude do presidente da
Comissão Económica da
organização [CEEAC], por
pôr em causa o bom nome
do país".
"Não
obstante o completo
desconhecimento das
conclusões do dito
relatório preliminar, o
Governo não entende a
intenção, nem a razão de
tais expedientes por
parte do senhor Gilberto
Veríssimo, pelo que
repudia e condena de
forma veemente a sua
atitude", lê-se no
comunicado publicado no
Facebook.
"O
MLSTP/PSD não entende o
desconforto e
desorientação do Governo
são-tomense em relação a
esta entrevista e a
prepotente acusação de
que as palavras do
presidente da Comissão
da CEEAC colocam em
causa a imagem e o bom
nome do país, quando
todos sabemos e
reconhecemos que a
imagem e o bom nome do
país foram sim manchados
de forma indelével pelos
protagonistas dos
bárbaros acontecimentos
de 25 de novembro,
quando torturaram e
mataram quatro cidadãos
nacionais no
quartel-general das
Forças Armadas de São
Tomé e Príncipe,
situação nunca antes
vista neste país de nome
santo", referiu hoje o
porta-voz do MLSTP/PSD.
Wuando
Castro disse que o MLSTP
"repudia o comunicado
precipitado e
atabalhoado do Governo
são-tomense que, desde o
início deste processo,
tem agido de forma
esquisita e
condicionado, em vários
níveis, qualquer
tentativa de debate
público ou oportunidade
de esclarecimento de
algumas situações
ocorridas, mantendo em
funções, até hoje, altas
patentes militares que
tiveram participação,
por ação ou omissão, no
massacre no
quartel-general, que já
foram constituídos
arguidos pelo Ministério
Público, e os respetivos
responsáveis políticos".
O maior
partido da oposição
são-tomense manifestou
"total solidariedade"
para com o presidente da
Comissão da CEEAC, a
quem pediu que se
mantenha "firme e
imparcial no cumprimento
desta missão" e que "não
se deixe intimidar por
estas manobras de
distração". Na madrugada
de 25 de novembro,
quatro homens atacaram o
quartel das Forças
Armadas, na capital
são-tomense, num assalto
que as autoridades
classificaram como
tentativa de golpe de
Estado.
O oficial
de dia foi feito refém e
ficou ferido com
gravidade devido a
agressões. Três dos
quatro atacantes detidos
pelos militares, e
Arlécio Costa, um antigo
combatente do batalhão
Búfalo da África do Sul
- detido posteriormente,
em casa -, morreram
horas depois no quartel.
Fotos e vídeos dos
homens com marcas de
agressão, ensanguentados
e com as mãos amarradas
atrás das costas, ainda
com vida e também já na
morgue, e com militares
a agredi-los, foram
amplamente divulgadas
nas redes sociais.
Um total
de 11 militares estão
presos preventivamente,
por alegado envolvimento
nos maus-tratos e mortes
dos quatro homens,
enquanto outros seis
foram constituídos
arguidos e ficaram
sujeitos a termo de
identidade e residência
(TIR). Outros nove estão
em prisão preventiva no
processo de investigação
do assalto ao quartel.
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JH Lusa/fim