Governo são-tomense sobe
valor de pensão dos
sobreviventes
do "massacre de Batepá"

05.02.2023 -
O Governo são-tomense
subiu para 2.500 dobras
(cerca de 100 euros) o
valor da pensão de
reforma atribuída aos
sobreviventes do
"massacre de Batepá",
ocorrido a 03 de
fevereiro de 1953,
anunciou esta
sexta-feira o
primeiro-ministro,
Patrice Trovoada.
"Se nós consideramos que
passaram 70 anos, e
estamos há 47 anos em
independência, podíamos
ter feito mais e
melhor", admitiu Patrice
Trovoada, no final de
mais um ato comemorativo
do 03 de fevereiro, em
que se recorda os
acontecimentos de 1953
em que centenas de
são-tomenses foram
mortos e torturados pelo
regime colonial
português.
Atualmente apenas nove
sobreviventes do
'massacre de Batepá'
estão vivos. Segundo
fonte do Ministério da
Saúde e dos Assuntos
Sociais, o valor das
pensões atribuídas aos
sobreviventes variava
entre 600 e 1.000 dobras
(cerca de 24 e 41 euros)
mensais, sendo que havia
quem não recebesse
qualquer valor."Vamos
ver se conseguimos
continuadamente aumentar
o nível das pensões, mas
eles têm outro problema
da habitação, às vezes
de alimentação. [...]
Eles merecem muito mais,
mas sobretudo o nosso
carinho", disse o
primeiro-ministro.
Apesar de
admitir que as medidas
adotadas pelo Governo
"não são suficientes",
Patrice Trovoada
acrescentou que também
foi atribuído a cada
sobrevivente "um cartão
de saúde que vai
permitir o acesso
gratuito a todos os
serviços" de saúde, e
tendo em conta que estes
serviços "às vezes têm
falhas", o Governo
pondera "estender à
evacuação sanitária fora
do país".
Por outro lado, o
primeiro-ministro
sublinhou que o Governo
quer apostar na "memória
transcrita", na recolha
de mais testemunhos
audiovisual e
fotográfico, para
"contribuir para que a
memória fique mais viva"
sobre os acontecimento
de 1953.
"A memória de um povo é
importante, mas também
eu acho que 70 anos
depois, o perdão é
importante, a
reconciliação é
importante, sobretudo
porque, como viram,
restam poucas
testemunhas físicas",
acrescentou Patrice
Trovoada.Por outro lado,
o chefe do executivo
são-tomense sublinhou
que "o futuro é
promissor, é um futuro
de reconciliação, de
paz, de perdão, de
entendimento", incluindo
com Portugal, que tinha
São Tomé e Príncipe como
colónia na altura do
massacre de Batepá.

"Celebrar o facto de,
com Portugal estarmos
reconciliados. Somos
amigos, somos irmãos,
somos solidários e
estamos numa outra
época", sublinhou.O ato
central do 03 de
fevereiro decorreu em
Fernão Dias, no distrito
de Lobata (norte da ilha
de São Tomé), e foi
presidido pelo chefe de
Estado são-tomense,
Carlos Vila Nova.
"O sangue que eles
derramaram trouxe-nos a
liberdade. Hoje vivemos
em democracia, também
não podemos dizer que
embora não tenha sido
aquele ato premeditado
de luta para a
independência,
constituiu uma
referência de revolta,
de luta, de manifestação
contra os
colonizadores", referiu
Carlos Vila Nova.
O Presidente são-tomense
considera que é preciso
"fazer jus ao que
aconteceu [em 1953] e
valorizar"."Eu penso que
o 03 de fevereiro é uma
cerimónia nobre, são
heróis, mártires, que
perderam a vida com
muito esforço, com muito
sacrifício, em
circunstâncias muito
estranhas e muito
violentas, e cabe-nos
agora fazer um percurso
de paz, viver em
democracia para que
possamos também de
alguma maneira louvar
esses são-tomenses que
de alguma maneira deram
a sua vida por nós",
defendeu.
O ato
central das comemorações
do dia 03 de fevereiro,
foi precedido de uma
marcha da Praça da
Independência, no centro
da capital, até Fernão
Dias, no distrito de
Lobata, contando com a
participação de milhares
de jovens, e alguns
membros do governo,
nomeadamente a ministra
da Juventude, Desporto,
Eurídice Medeiros, e a
ministra dos Direitos da
Mulher, Maria Delgado. (Lusa)