Líder da oposição em São
Tomé recusa participar
em debate
parlamentar após ataque
ao quartel
30.11.2022 - O maior
partido da oposição
são-tomense (MSLTP/PSD)
recusou participar no
debate sobre o programa
do Governo, "como sinal
de desagrado e tristeza"
perante a situação do
país, após o ataque ao
quartel militar na
semana passada.
"O
MLSTP/PSD, enquanto
partido histórico que
liderou a luta pela
Independência de São
Tomé e Príncipe e que
instaurou a democracia
no nosso país, não pode,
em consciência,
compactuar com a
situação atual e com a
passividade das nossas
autoridades.
Por, isso
como sinal do nosso
desagrado e tristeza, a
nossa bancada não terá
mais nenhuma intervenção
neste debate", declarou
Danilo Santos, líder do
grupo parlamentar,
durante o debate sobre o
programa de Governo da
Ação Democrática
Independente (ADI), que
venceu as legislativas
de 25 de setembro com
maioria absoluta.
Em causa
está o ataque ao
quartel-general das
Forças Armadas ocorrido
na madrugada da passada
sexta-feira, que as
autoridades são-tomenses
classificaram como "uma
tentativa de golpe de
Estado" e em que
morreram quatro pessoas
e cerca de 20 foram
detidas.
No
próprio dia, o Movimento
de Libertação de São
Tomé e Príncipe/Partido
Social Democrata
(MLSTP/PSD) pediu um
debate com caráter de
urgência sobre os
acontecimentos, cuja
marcação o líder da
bancada disse hoje
esperar "ansiosamente",
defendendo que este
deveria ter tido
prioridade em detrimento
do debate do programa do
Governo.
"Os
acontecimentos do
passado 25 de novembro
são graves e complexos
demais para caírem no
esquecimento e merecem
da nossa parte uma
análise profunda e
urgente", considerou
Danilo Santos. Na
madrugada de dia 25,
quatro homens atacaram o
quartel das Forças
Armadas, na capital
são-tomense, num assalto
que se prolongou por
quase seis horas, com
intensas trocas de tiros
e explosões, e durante o
qual fizeram refém o
oficial de dia, que
ficou ferido com
gravidade devido a
agressões.
O ataque
foi neutralizado pelas
06:00 locais (mesma hora
em Lisboa), com a
detenção dos quatro
assaltantes e de 12
militares suspeitos de
envolvimento na ação.
Foram também detidos
pelos militares, nas
suas respetivas casas, o
ex-presidente da
Assembleia Nacional
Delfim Neves (que
concluiu o mandato no
início deste mês) e
Arlécio Costa, antigo
oficial do `batalhão
Búfalo` que foi
condenado em 2009 por
uma tentativa de golpe
de Estado, alegadamente
identificados pelos
atacantes como
mandantes. Três dos
quatro atacantes e
Arlécio Costa morreram
na sexta-feira e imagens
dos homens com marcas de
agressão, ensanguentados
e com as mãos amarradas
atrás das costas, ainda
com vida e também já na
morgue, foram amplamente
divulgadas nas redes
sociais.
O chefe
do Estado-Maior das
Forças Armadas,
brigadeiro Olinto
Paquete, afirmou que os
três assaltantes
morreram na sequência de
uma explosão quando os
militares procuravam
libertar o refém e
Arlécio Costa porque se
"atirou da viatura".
Sobre o
programa do executivo
liderado por Patrice
Trovoada, que apelidou
de "brochura", Danilo
Santos defendeu que "num
contexto de normalidade
e em face da situação
que o país vive
atualmente", a
prioridade "de qualquer
programa de um governo
minimamente responsável
e sério deveria ser o
reforço do Estado de
Direito democrático,
para que o país tivesse
instituições mais fortes
e credíveis,
respeitadoras das leis e
dos direitos
fundamentais dos seus
cidadãos, consagrados na
Constituição".
"Sejam
criminosos ou não, todos
os cidadãos devem ter a
garantia da presunção de
inocência, acesso ao
advogado de defesa e
garantia de um
julgamento justo e
imparcial e não se devia
permitir jamais que
cidadãos possam ser
sequestrados em suas
casas por militares sem
mandados de captura e de
prisão, torturados e
sumariamente executados
à vista de todos, com as
suas fotos espalhadas
pelas redes sociais",
lamentou o partido da
oposição.
Outra
medida seria "o reforço
da coesão social e da
unidade entre os
são-tomenses" para que,
políticos e sociedade
civil, pudessem "pôr de
lado as divergências
pessoais, as querelas
políticas artificiais e
os ódios e rancores que
tanto mal têm feito à
sociedade", para
"finalmente" se
colocarem "de acordo
sobre as grandes causas
nacionais", disse Danilo
Santos, acrescentando:
"E juntos construirmos
com as nossas próprias
mãos o país que
sonhamos".
Na sua
declaração, o líder
parlamentar do MLSTP/PSD
transmitiu condolências
"aos familiares
enlutados" e um
"reconhecimento" ao
oficial de dia, tenente
Marcelo da Graça, "que
bravamente defendeu a
honra militar e a
pátria". Por sua vez, o
deputado Levy Nazaré,
eleito pelo recém-criado
movimento Basta
juntamente com Delfim
Neves -- que entretanto
suspendeu o mandato --,
insistiu na pergunta:
"Nós, que somos
são-tomenses, nascidos,
crescidos e que
ficaremos aqui no
futuro, é este país que
nós queremos?"
"O rumo
que o nosso país está a
tomar é de precipício
coletivo", lamentou.
Levy Nazaré, que foi
secretário-geral da ADI,
antes de apoiar uma ala
que desafiou a direção
de Patrice Trovoada após
as legislativas de 2018,
acrescentou: "Se tiverem
de tirar a vida a Levy
Nazaré para que os
são-tomenses se sentem
na mesma mesa, podem
tirar. Podem tirar tudo
o que eu tenho, bens
materiais, a vida, mas
jamais vão tirar a minha
liberdade e a minha
forma de pensar".
Após o
ataque ao quartel
militar, Levy Nazaré fez
circular nas redes
sociais um áudio em que
se demarcava do ato,
afirmando ter defendido
sempre o Estado de
Direito, e no qual
deixava uma mensagem de
despedida aos
familiares, caso fosse
preso ou morto.
Por>Lusa